terça-feira, 28 de junho de 2011

Insônia (2)


noite enorme
tudo dorme
menos teu nome


Paulo Leminski, Winterinverno, 1988





*



* mais uma madrugada embriagada de música e poesia; outra manhã miserável...
** dá para acreditar que passei uma temporada dividindo o mesmo balcão de fórmica azul em um boteco sem nome, bebendo com Paulo quando do lançamento deste livro - de haikais, como tilintava essa palavra na boca dele... Ficava ao lado do [teatro] Guaíra, na Curitiba sempre fria. O bar fechou. Nunca mais voltei a beber com Leminski.
*** Goreti, este é pra ti.

domingo, 26 de junho de 2011

Feeling this way today...




  • com a canção que se encaixa exatamente com a temperatura da  sensação...


...e que o mundo todo se acabe em jazz!





* estamos na primeira semana do início do inverno e já nevou. No Brasil!

Cada dia te amo mais, hoje mais que ontem e bem menos que amanhã

  • Dizem que o francês é a língua do amor e eu nem vou perder tempo questionando,
  • au contraire,
  • tudo é pretexto pra incluir aqui a versão original de L'éternelle chanson (A Eterna Canção)
  • também conhecido por Les vieux - Os velhos - o poema foi escrito por Rosemond Gerard Rostang no século 19,
  • e dedicado a seu marido, Edmond Rostang, também escritor e autor de Cyrano de Bergerac.


L'éternelle chanson

Lorsque tu seras vieux et que je serai vieille,
Lorsque mes cheveux blonds seront des cheveux blancs,
Au mois de Mai, dans le jardin qui s'ensoleille,
Nous irons réchauffer nos vieux membres tremblants;
Comme le renouveau mettra nos coeurs en fête,
Nous nous croirons encore de jeunes amoureux,
Et je te sourirai, tout en branlant de la tête,
Et nous ferons un couple adorable de vieux;
Nous nous regarderons, assis sous notre treille,
Avec de petits yeux attendris et brillants,
Lorsque tu seras vieux et que je serai vieille,

Lorsque mes cheveux blonds seront des cheveux blancs.

Sur le banc familier, tout verdâtre de mousse,
Sur le banc d'autrefois, nous reviendrons causer.
Nous aurons une joie attendrie et très douce,
La phrase finissant souvent par un baiser ;
Combien de fois, jadis, j'ai pu dire: "Je t'aime!"
Alors, avec grand soin, nous le recompterons,
Nous nous ressouviendrons de mille choses, même
De petits riens exquis dont nous radoteron ;
Un rayon descendra, d'une caresse douce,
Parmi nos cheveux blancs, tout rose, se poser,
Quand, sur notre vieux banc tout verdâtre de mousse,
Sur le banc d'autrefois, nous reviendrons causer.
Et, comme chaque jour je t'aime davantage,
-Aujourd'hui plus qu'hier et bien moins que demain -
Qu'importeront alors les rides du visage
Si les mêmes rosiers parfument le chemin.
Songe à tous les printemps qui, dans nos coeurs, s'entassent
Mes souvenirs à moi seront aussi les tiens;
Ces communs souvenirs toujours plus nous enlacent
Et sans cesse entre nous tissent d'autres liens;
C'est vrai, nous serons vieux, très vieux, faiblis par l'âge,
Mais plus fort chaque jour je serrerai ta main,
Car vois-tu, chaque jour, je t'aime davantage,
Aujourd'hui plus qu'hier et bien moins que demain.
.
Lorsque tu seras vieux et que je serai vieille,
Lorsque mes cheveux blonds seront des cheveux blancs
Au mois de Mai, dans le jardin qui s'ensoleille,
Nous irons réchauffer nos vieux membres tremblants;
Comme le renouveau mettra nos coeurs en fête,
Nous nous croirons encore aux heureux jours d'antan,
Et je te sourirai, tout en branlant la tête,
Et tu me parleras d'amour en chevrotan ;
Nous nous regarderons, assis sous notre treille,
Avec des yeux remplis des pleurs de nos vingt ans...
Lorsque tu seras vieux et que je serai vieille,
Lorsque mes cheveux blonds seront des cheveux blancs.


Rosemonde Gerard Rostang, 1889

*


  • Daí que, em 1907, o joalheiro francês Alphonse Augis criou a médaille d’amour,
  • com a inscrição "Aujourd’hui + qu’hier – que demain" (Hoje + que ontem – que amanhã), eternizou os versos de Rosemonde
  • hoje mais populares por conta da jóia do que pelo poema em si.
  • Para os que nunca sabem o que presentear o amor de sua vida, essa é uma sugestão atemporal
  • além de vir em francês, a frase tem o plus romântico de ter sido escrita há mais de um século e ainda emocionar (e funcionar!)
  • entretanto, se a conta bancária não avalizar, não se deprima
  • (não se deprima ôuh,ôuh!)
  • a sugestão continua valendo - e os versos de Rosemonde têm poder!
  • o resultado é o mesmo: ora adornado por brilhantes
  • ou escrito no verso do guardanapo sujo de catchup. 
  • (mantenha sempre viva no coração a frase de Che: "mismo en la mayor dureza, no pierdas la ternura!")

*

o francês não é sua praia? Ainda assim tente ler o poema em voz alta para sentir toda a emoção que o ritmo e a cadência dos versos de Rosemonde despertam... Para entender seu significado, aqui vai uma tradução rústica, editada no facão:

A Eterna Canção
Quando envelhecermos
E meus cabelos loiros tornarem-se cabelos brancos
no mês de maio, em um jardim ensolarado,
aqueceremos nossos velhos ossos trêmulos,
a primavera deixará nossos corações em festa.
Acreditaremos ainda sermos jovens apaixonados
e eu te sorrirei, inclinando a cabeça,
seremos um  adorável casal de velhotes
sentados, a nos contemplar com os olhos pequenos,
mas ainda ternos e brilhantes,
Quando tu estiveres velho e eu velha,
Quando os meus cabelos loiros tornarem-se brancos

Sobre nosso velho banco, esverdeado pelo musgo,
conversaremos com uma alegria terna e tão doce,
as frases sempre a terminar com um beijo.
Quantas vezes já nos dizemos "Te Amo”?
Então com grande cuidado vamos contá-las.
Recordaremos mil coisas, até mesmo
das tolices ditas e dos pequenos nadas delicados.
Um raio descerá entre os nossos cabelos brancos
feito carícia doce, e rosa pousará.
Sobre o banco de outrora voltaremos a conversar.
E como cada dia te amo mais,
Hoje mais que ontem e bem menos que amanhã.
Que importarão então as rugas do rosto?
O meu amor será mais sério - e sereno.
Imagina que todas nossas lembranças se unem,
As minhas recordações serão também as tuas.
Estas recordações comuns cada vez mais nos envolvem
E sem cessar entre nós tecem outros laços.
É verdade, seremos velhos, muito velhos,
enfraquecidos pela idade,
mas mais forte a cada dia apertarei a tua mão,
Porque vê tu, cada dia eu te amo mais,
Hoje mais que ontem e bem menos que amanhã.

E deste querido amor que passa como um sonho,
Quero conservar tudo no fundo do meu coração,
Reter, se possível for, a impressão demasiado breve,
Para voltar a saborear mais tarde, com lentidão.
Escondo tudo o que dele vem como uma avarenta,
Acumulando as riquezas com ardor para os meus velhos dias,
Serei então rica de uma riqueza rara
Terei guardado todo o ouro dos meus jovens amores!
Assim deste passado de felicidade que termina,
Minha memória devolverá a doçura;
E deste querido amor que passa como um sonho,
Terei conservado tudo no fundo do meu coração.
Quando envelhecermos,
Quando os meus cabelos loiros tornarem-se brancos.


**este texto era para ser publicado na semana que antecede o Dia dos Namorados, mas falhei na programação (fuén, fuén). Agora e sempre, vai dedicado ao amigo Roberto Mafra, com quem sonho reviver memórias comuns - sous le ciel de Paris, braços dados, em um banco do Jardim de Versailles - tecidas pelo frescor de nossa juventude, seladas pela força de nossa amizade.

sábado, 25 de junho de 2011

Só o humor salva

  • Ele está quase sempre rindo, ou pelo menos sorrindo
  • e tem o dom de fazer todos à sua volta sorrirem.
  • Ele é Tenzin Gyatso, Sua Santidade o Décimo Quarto Dalai Lama, líder espiritual do povo tibetano, ganhador do Prêmio Nobel da Paz e maior expoente do budismo da atualidade.
  • o sorriso do Dalai Lama impressiona...

  • daí, que na semana passada, um apresentador da TV australiana, aproveitou a oportunidade de estar frente às câmeras com o lama que ri e contou-lhe uma piada
  • Karl Stefanovic, do canal Channel Nine, soltou a anedota - ao vivo - com um jogo de palavras em inglês que não funciona em outras línguas, como o tibetano.
  • Eis a piada [primeiro em inglês, que é como tudo faz sentido]:

A Buddhist monk, visiting New York City for the first time in twenty years, walked up to a hot dog vendor, handed him a twenty dollar bill, and said, "Make me one with everything". The vendor pocketed the money, and handed the Buddhist monk his hot dog. The monk, after waiting for a moment, asked for his change. The vendor looked at him and said, "Change comes from within."
(Um monge budista, em visita à Nova York, pela primeira vez em 20 anos, caminhou até um vendedor de cachorro quente, entregou-lhe uma nota de vinte dólares e pediu: "Faça-me um com tudo." Em inglês, a frase pode ser interpretada como uma espécie de lema budista, sugerindo uma união entre o homem e o universo, "Torne-me um com o todo". O vendedor embolsa o dinheiro e entrega ao monge budista o cachorro quente. O monge, depois de esperar por um momento, pergunta pelo seu troco (que também pode ser entendido por "e a minha transformação?"). O vendedor olha para ele e diz: "A mudança vem de dentro."

*
  • com essa historinha inocente - filosófica, até - o australiano conseguiu a façanha de deixar o Dalai-Lama constrangido
  • sem entender lhufas e diante da risada solta do entrevistador, Sua Santidade só conseguiu balbuciar: "teoricamente possível"
  • ao perceber o olhar perplexo do santo homem, Stefanovic admite que não conseguiu fazer a piada,
  • o que finalmente provoca a gargalhada - bem terrena - do líder espiritual tibetano.

  • Já ouvi uma gente muito séria e inteligente discorrer que as anedotas "não servem para nada, são pura idiotice, distração boba, futilidade disfarçada de insulto"
  • ...
  • ora, uma boa piada requer coragem e inteligência,
  • talvez seja por isso que existam tantas piadas ruins e tanta gente carrancuda
  • que não riem nunca, nem ao menos de si mesmas (pode haver coisa pior?)
  • isso sim é insultante - de uma inutilidade sem precedentes.
  • prefiro o Décimo Quarto Dalai Lama, que mesmo diante do absurdo posiocina-se no "teoricamente possível"
  • e sua resposta à jornalista baiana que lhe perguntou [quando de sua última visita ao Brasil, em 2006]: "Por que o senhor está sempre sorrindo?"
  • "Sorrio porque sinto-me como se estivesse sempre reencontrando um velho amigo. Para mim, um desconhecido é outro membro da família humana que encontro"
  • e completou: "é preciso não banalizar o sorriso. Isso não quer dizer que devemos economizá-lo. É fundamental saber sorrir."


*

Festa estranha, com gente esquisita...

... mas o som é bom, bem bom!


  • Gogol Bordello é dos Balcãs e faz um som catalogado como punk cigano, que tal?
  • Melhor abrir o coração pois o que os olhos estranham os pés amam.
  • E salve Santa Sara!


  • Home é uma musiquinha deliciosa e de pureza romântica rara nestes dias
  • ouvi pela primeira vez em versão acústica - uma tomada caseira de um jovem pai, seu violão e sua filha Alexa, de 6 - um dos vídeos mais acessados no youtube deste ano (vai, é só um cliquezinho...)
  • a segunda vez foi quando os dois foram cantar no Ellen [DeGeneres] Show. Alexa distribuiu abraços e beijos para audiência sem nem ligar para o enorme "cadillac da Barbie" que ganhou. Alexa queria mesmo era sociabilizar. Fofa de tudo!
  • Mas foi só há um mês atrás que tomei conta desta apresentação ao vivo, no David Letterman Show, da banda [Edward Sharpe & Magnetic Zeros] que compôs e gravou a canção
  • Edward Sharpe, o vocalista, é um remanescente da melhor estirpe dos hippies (repara no penteado dele!)
  • e a vocalista? Em nenhum momento ela se vira para o público... o que dizer? weird!
  • (mas isso só reparei na segunda vez que cliquei o play - os instrumentistas magnetizaram meus zeros, digo, olhos - incríveis!)



  • Darwin Deez se parece muito com meu tio Ruy Carlos - que eu amo muito e foi-se antes da hora - então vou me abster de fazer comentários sobre seu estilo único e sua dancinha sécsy
  • aprecie!

  • (e tem outra simpatia no repertório do moço: Constellations - sonzinho light, super relax, mais apropriado ao meu estágio na vida.)


*
  • Boa diversão!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Decidi ser feliz, no outono


"Tem uma hora na vida de toda mulher em que ela precisa decidir se vai ser feliz ou se vai ser magra. Eu decidi ser magra. E nem paladar eu tenho mais." (Natalie, personagem de Deborah Secco na novela Insensato Coração, da Rede Globo)


*



* na ilustração, Hilda, a pin up fofinha criada em 1958 pelo ilustrador Duane Bryer.

domingo, 19 de junho de 2011

Memória do fogo

Passei o dia relembrando Galeano (o jovem senhor, embriagado de vida no vídeo do post anterior).

Adorei ver o escritor vivíssimo, na praça, acompanhando as manifestações juvenis, generoso, professoral, ainda libertário, confiante e otimista. Diverti-me com suas frases de efeito e voltei a me impressionar com sua verve. 

Galeano foi fundamental na formação da geração X latina - também conhecida como geração coca-cola - a turma que cresceu com a ditadura, brigou pelas eleições diretas e chamava os norteamericanos de imperialistas e os europeus de colonizadores.

Busquei na estante meu exemplar de As veias abertas da América Latina. Sumiu. Tem acontecido com frequência - ou meu lar é abrigo para um gatuno ilustrado ou minha memória anda roubando meu lustre - que fim teve ou dei ao livro não sei.

Houve um tempo que este livro era como a bíblia de professores e alunos no país - as páginas amassadas e sublinhadas nas bolsas de lona e couro cru. O subtítulo entregava: "cinco séculos de pilhagem de um continente". Desde os anos 90, entretanto, quando tentou-se enterrar as ideologias, Galeano passou a ser considerado simplório, de pesquisa histórica rasteira e foi solenemente esquecido pelas novas gerações.

Em 2009, antes de uma reunião de cúpula com os governantes da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Washington, o presidente venezuelano Hugo Chávez, presenteou com um volume - em espanhol, por supuesto - o líder americano Barack Obama. Em menos de uma semana, o título passou a figurar como o segundo mais vendido pelo site Amazon. A imprensa americana tripudiou: qualificou-o como "obscuro", "empoeirado", a decades-old-book, "o livro de cabeceira do presidente venezuelano"... 

Triste fim para uma obra literária. Melhor seria se tivesse se perdido das estantes do mundo para sempre.


Mas a trilogia "Memória do Fogo" não se perdeu com o tempo: ainda está guardada, com carinho, junto de outros livros que me fizeram (está lá na primeira página, escrito com uma letrinha caprichada e ainda habituada ao lápis e caneta: lido em 1986). Mais literatura do que fonte histórica, os três livros resgatam os mitos, lendas e os embates entre nativos e colonizadores, carregando no lirismo e na emoção. Uma obra épica, poética e fantástica que me incitou a abraçar minha natureza mestiça, latina e feminina.

É do primeiro volume, Nascimentos, que pincei o trecho abaixo:



Se engana o fogo

[1562, Maní - México, província de Yucatán, cidade sede da dinastia maia]

Frei Diego de Landa atira às chamas, um após o outro, os livros dos maias. O inquisidor amaldiçoa Satanás e o fogo crepita e devora.
Em volta do queimadeiro, os hereges uivam de cabeça para baixo. Pendurados pelos pés, em carne viva pelas chibatadas, os índíos recebem  banhos de cera fervendo enquanto crescem as chamas e gemem os livros, como queixando-se.Esta noite se transformam em cinzas oito séculos de literatura maia. Nestes longos rolos de papel de casca de árvore, falavam os sinais e as imagens: contavam os trabalhos e os dias, os sonhos e as guerras de um povo nascido antes que Cristo.Com pincéis de pêlos de javali, os sabedores de coisas tinham pintado estes livros iluminados, iluminadores, para que os netos dos netos não fossem cegos e soubessem ver-se e ver a história dos seus, para que conhecessem os movimentos das estrelas, as frequências dos eclipses, as profecias dos deuses e para que pudessem chamar as chuvas e as boas colheitas de milho.

Ao centro, o inquisidor queima os livros. Ao redor da fogueira imensa, castiga os leitores. Enquanto isso, os autores, artistas-sacerdotes mortos há anos ou séculos, bebem chocolate na sombra fresca da primeira árvore do mundo. Eles estão em paz, porque morreram sabendo que a memória não se incendeia. Não se cantará e dançará por acaso, pelos tempos dos tempos, o que eles tinham pintado?
Quando queimam suas casinhas de papel, a memória encontra refúgio nas bocas que cantam as glórias dos homens e deuses, cantares que de gente em gente ficam, nos corpos que dançam ao som dos troncos ocos, dos cascos de tartaruga e das flautas de taquara.




*









* Ainda na universidade, utilizei o texto acima como referência para um sketch teatral que escrevi, uma encenação de cinco minutos onde pretendi recontar a caça às bruxas do período medieval, as origens do halloween e a inquisição católica (mixórdia quando pouca é bobagem). A disciplina era Inglês e a peça deveria ser apresentada em inglês. O ator principal, que interpretava o inquisidor romano - um colega que era também soldado militar e que servia no Corpo de Bombeiros  - decidiu que as falas dele ficariam mais dramáticas se substituísse algumas palavras e expressões pelo alemão... can you picture that? A composição da personagem não convenceu a professora e acabei reprovada na disciplina, mesmo com o texto todo escrito e entregue em inglês. Ainda hoje, quando a memória insiste em lembrar desta flexível senhôura sai um: w-i-t-c-h, sometimes with w, sometimes with b...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Galeano


  • existem citações, frases inspiradas, pílulas de sabedoria
  • e existem "coquetéis bombados" como este, do escritor uruguaio Eduardo Galeano
  • overdose de vida!
*

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vulcão


"Olho pra fora, perco um tempo imaginando que os galhos da árvore balançam porque estão tremendo de frio, fico procurando passarinho escondido no meio das folhas arrepiadas e me deixo levar por uma espécie de inquietação, um não-sei-o-quê vai se agitando enquanto o corpo obedece ao toque de recolher que a temperatura impõe. Então volto pro jornal, leio alguma coisa sobre o vulcão chileno e de repente me dou conta de que o frio pode invocar mesmo o espírito dos vulcões: sentada na minha cozinha, em silêncio, vou enrijecendo feito pedra e experimento a sensação dessas montanhas, aparentemente tão calmas. Também eu sinto que algo se move por dentro, como energia de lava, dando sinais de uma estranha ebulição."


*



* sempre uma delicadeza e uma surpresa à espreita no Diários da Bicicleta, da Silvana Tavano.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

A melhor canção de amor dos Beatles de todos os tempos

Sei que vou mexer em um vespeiro aqui, mas minha afirmação está embasada por ninguém menos do que Frank Sinatra, que sempre fez questão de dizer que Something, dos Beatles, será para sempre a mais bela canção de amor já escrita de todos os tempos.

O vídeo abaixo é uma raridade. Não faz parte de um filme. Também não é um clipe. Mostra os quatro integrantes da banda com seus amores da época - justamente os que fizeram história: John e Yoko, George e Pattie, Ringo e Maureen, Paul e Linda.

Something foi escrita por George para Pattie Boyd. A mesma que o traiu com seu melhor amigo, Eric Clapton. Para ela, Eric compôs Layla. Pattie contou tudo em sua autobiografia (o capítulo em que fala da traição e explica seus motivos foi publicado no Daily Mail e traduzido aqui.)



  • mas se uma só canção dos Beatles não é suficiente pra você - assim como para mim - aqui vai um extra:
  • a segunda melhor canção de amor dos Beatles de todos os tempos: In my life!

  • e a terceira pode ser Michelle, Hey Jude, I wanna hold your hand...
  • a lista é impraticável, mas fique à vontade, todas são um acerto!
  • (percebeu que incorporei somente os vídeos com a letra legendada? Comigo é assim, darling, só vou de agradinho mamãozinho com açúcar!)

*



* e já que enfiei a mão no pote, vou entornar de vez: Layla é boa, mas não se compara a Something. Ever! É o que penso, mas juro, que este detalhe nem me veio à mente, quando em Londres, num final de tarde de luz incrível (do tipo só possível nos verões no hemisfério norte), Eric lançou olhos gulosos para mim (acredite se quiser, não tenho motivos para fantasiar - e há testemunhas para comprovar - portanto é uma história verídica, sim!). Não foi em um pub ou ambiente com meia luz, foi ao ar livre, com um jasminzeiro enorme perfumando o jardim onde acontecia a reunião em que estávamos, umas 40 pessoas, não mais. No doubt, Eric me cantou! Ok, sei que não é absolutamente impossível, um milésimo de nada se formos olhar o currículo do cantor, a world class ladies man, como dizem os ingleses. Mas ainda hoje considero lisonjeiro, afinal, estar no mesmo rol de mulheres como Naomi Campbell, Carla Bruni, Patsy Kensit, Tatum O'Neal, Michelle Pfeiffer, Barbara Hershey, Christy Turlington, Uma Thurman, Sharon Stone e Sheryl Crow poderia ter sido uma diferença e tanto na minha vida. Tipo, eu poderia ter sido a Luciana Gimenez do Brasil, antes mesmo da Luciana Gimenez! Mas, não, eu preferi solenemente despacha-lo. Dei uma banana pro Eric Clapton! E à minha maneira, vinguei George Harrison. Tá bom procê?!

terça-feira, 7 de junho de 2011

O casamento não é fácil, mas apesar disso, ainda não se encontrou nada melhor



*

"Não inventaram nada melhor para enfrentar os riscos,
os perigos e os percalços desta vida a não ser duas pessoas que se amam
e que pretendem envelhecer juntas."

*


  • Após o post anterior, julguei que deveria escrever em defesa do casamento... e fiquei quatro dias sem inspiração!
  • sei que muitos chorariam; eu ri,
  • de todas as coisas sérias, o casamento é a mais cômica, já disse Beumarchais, no texto de As Bodas de Fígaro, em 1784.
  • quem há de discordar? Já tinha dado por encerrada minha busca. Insisti. Desisti. E desisti e insisti uma meia dúzia de vezes, até achar este par de citações pra fazer bonito aqui,
  • a primeira, do ator Wagner Moura, em entrevista à Rolling Stone brasileira;
  • e a segunda da psicóloga e escritora carioca Lídia Arantagy, para a revista Lola, de junho deste ano.
  • E pra não dizer que tudo mais que encontrei foi irrelevante - mais sempre do mesmo - duas outras frases me fizeram sorrir:
  • "O casamento simplifica a vida e complica o dia", de Jean Rostand e
  • a incrível, do infalível Sócrates: "Em todo o caso, casai-vos. Se vos couber a sorte de um bom companheiro, sereis felizes; se vos calhar um mau, tornar-vos-eis filósofos, o que é excelente para todos nós."


*



* Minha impressão pessoal? Casamento faz crescer; por dentro e por fora; para os lados e para baixo (e ainda não esvaziou meu bom humor - o que convenhamos, é um poota ponto positivo!) ** Frase no título: Henri Amiel.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O futuro do amor, do romance e do casamento


O casamento surgiu como instituição quando a esperança de vida era de 30 anos. Àquela altura, viver 20 anos com uma pessoa era possível, suportável. Hoje, com o aumento da expectativa de vida, todos os que conseguem passar mais de 60 anos com a mesma pessoa deveriam figurar no livro dos recordes, concordam?

Se há 100 anos encontrávamos o amor passeando pela praça ao redor da Igreja, agora buscamos nossa cara metade entre os rincões da internet. Como será dentro de alguns anos?

Entre 2000 e 2009, o site Cama na Rede, administrado pela psicanalista e escritora carioca Regina Navarro Lins reuniu histórias reais, desabafos, conselhos e muita polêmica. Os depoimentos dos internautas, aliados às análises da psicanalista, deram subsídio para seu mais recente livro, A Cama na Rede - O que os Brasileiros Pensam sobre Amor e Sexo (publicado pela editora BestSeller).

Ao reconhecer que nossas concepções familiares do relacionamento afetivo deixaram de funcionar e precisam de ser reequacionadas, Regina lança algumas sugestões sobre o futuro do amor, do romance e do casamento. Muitas podem parecer ousadas e até transgressoras por revelarem o quanto os valores tradicionais de relacionamento já não mais nos satisfazem, mas não há como negar: as mudanças "previstas" por ela já estão sinalizadas por toda a parte.

Abaixo, um apanhado das ideias da escritora, retiradas de entrevista concedida à Revista Bons Fluidos em abril deste ano.

  • A paixão e o romance A paixão está em vias de extinção. O amor romântico, calcado na exigência de exclusividade, começa a sair de cena porque contraria o principal anseio da sociedade atual: a busca pela individualidade, pelo desenvolvimento de nossos potenciais. A imagem de fusão - dois seres que se tornam uma unidade - deixa de ser atraente. Uma relação só tem sentido se nos ajuda a crescer e a nos desenvolver. Se estiver fundamentada na ética do sacrifício, na ilusão de que é preciso ceder sem limites, torna-se um fardo. Por essas razões, está surgindo um amor mais centrado na amizade e no companheirismo, sem a exigência de exclusividade. 

  • O Poliamor
    No futuro próximo, cada vez mais pessoas vão preferir se relacionar com várias outras do que se fechar em uma relação a dois. Não existirá mais um modelo preestabelecido que aniquila as singularidades. O que está no ar neste momento é o poliamor: a possibilidade de amar e ser amado por várias pessoas ao mesmo tempo. Caminhamos para isso. Mas não posso garantir que seja daqui a 10, 20 ou 30 anos. Se, no passado, alguém dissesse que as separações seriam corriqueiras e que as moças não se casariam virgens, as pessoas ficariam indignadas. É a mesma coisa. Há aspectos da história que demoram séculos para se firmar.

  • O  ciúme  Nós fomos acostumados a acreditar que o ciúme faz parte da natureza humana e do amor. Há quem fique arrasado se o parceiro não sente ciúme, entende que não é amado. O ciúme nasce do medo da perda. O fato é que saímos do útero materno, onde não sentimos frio, fome ou cólica e somos tomados por um profundo sentimento de desamparo. Mais tarde, a criança é ciumenta, possessiva e controladora porque se a mãe sumir ela morre, uma vez que necessita de cuidados físicos e emocionais. Isso é compreensível. À medida que crescemos, o natural seria abandonarmos esse comportamento. No entanto, na fase adulta, o indivíduo entra numa relação a dois nos moldes do amor romântico e acredita que ali vai conseguir reeditar a plenitude intrauterina. Nossa cultura favorece esse entendimento quando deveria estimular as pessoas a desenvolver a capacidade de ficar bem sozinhas e descobrir suas singularidades. 

  • O casamento  O casamento proporciona um modo de vida insatisfatório para a maioria, mas ainda há muita gente casando - como também há muitos divórcios. A tendência é o casamento tradicional e seus valores serem menos apreciados. Uma coisa é certa. As uniões duram cada vez menos porque o amor passou a fazer parte delas. Quando esse sentimento não era considerado, modelo que perdurou por milhares de anos, as expectativas eram outras. As principais: o marido ser provedor e respeitador e a mulher dona de casa prendada e respeitável. Com muita sorte, desenvolvia-se estima pelo cônjuge. Quando o amor entrou no casamento para valer, no século XX, as expectativas mudaram, passando a abranger realização afetiva e prazer sexual. Com isso, o nível de frustração das pessoas aumentou.

  • O desejo Por que o desejo acaba no casamento? A rotina, a excessiva intimidade e a falta de mistério acabam com qualquer emoção. Busca-se muito mais segurança que prazer. Para se sentirem seguras, as pessoas exigem fidelidade, o que sem dúvida é limitador e também responsável pela falta de desejo. A certeza de posse e exclusividade leva ao desinteresse, por eliminar a sedução e a conquista. É claro que existem exceções e que, em alguns casais, o desejo sexual continua existindo após vários anos de convívio. Mas não podemos tomar a minoria como padrão. Familiaridade com o parceiro, associada ao hábito, pode provocar a perda do desejo sexual, independentemene do crescimento do amor e de sentimentos como admiração, companheirismo e carinho. Acredito que a solução é as pessoas reformularem as expectativas que alimentam a respeito da vida a dois, principalmente quanto à exclusividade sexual.

  • A infidelidade  A preocupação com a fidelidade é uma paranóia coletiva, uma doença. E se a imensa maioria tem relações extraconjugais é porque variar é bom e não necessariamente porque algo vai mal no relacionamento ou porque deixaram de amar seus parceiros. Muitos são os que reprimem o desejo por outras pessoas em respeito ao parceiro. Mas isso tem um preço. Se você abre mão do seu desejo em consideração ao outro, este se torna devedor. Precisamos parar de perder tempo com esse clichê e encontrar maneiras de ser mais verdadeiros conosco e, portanto, mais felizes. Agora é evidente, se começo a sair com outros e deixo de apreciar a companhia do cônjuge, aí fica ruim.

  • Dá para ser feliz no amor? Para viver bem precisamos de coragem para romper com valores equivocados que nos foram transmitidos. As pessoas sofrem muito e desnecessariamente por causa de suas fantasias, desejos, medos, culpas, vergonha. Homens e mulheres só têm de se preocupar em responder a duas perguntas: sinto-me amado (a)? Sinto-me desejado (a)? Se a resposta for positiva, o que o outro faz quando não está ao meu lado não me diz respeito. Mesmo porque é uma ilusão achar que controlamos alguém. Precisamos, sim, manter a autoestima elevada, porque, quem o faz, não se deixa martirizar pela possibilidade de que vai ser trocado a qualquer momento. E se, isso acontecer, entender que faz parte da vida. Quem desenvolveu a capacidade de ficar bem sozinho pode até sofrer com a separação, mas vai saber tocar a vida, pois tem amigos, projetos, autonomia.

  • Nós seríamos mais felizes no amor e mais satisfeitos com nossa sexualidade se... nós nos relacionássemos de forma madura, ou seja, não esperando que o par amoroso satisfaça todas as nossas necessidades como se estivéssemos no útero materno. Se nós estivermos com alguém pelo prazer de estar juntos e não pela necessidade de aplacar a sensação de desamparo. Se nós entendêssemos que sentir desejo sexual por outras pessoas é absolutamente natural. As pessoas precisam reformular profundamente as expectativas que nutrem a respeito da vida a dois para serem mais felizes.

*


* na imagem, o que pode ter sido o mais antigo caso de amor romântico da história da humanidade. Em 2007, arqueólogos desenterraram dois esqueletos do período neolítico, enterrados em um "abraço eterno" na região de Mântua, Itália, a 25 quilômetros ao sul de Verona, cidade onde Shakespeare situou a fábula de Romeu e Julieta. Pessoas do mundo inteiro têm especulado sobre as circunstâncias que rodearam a morte do casal. Só o que se sabe é que morreram jovens, porque ambos tinham todos os dentes intactos. Mas, além disso, os esqueletos são um mistério.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Wild Love



*



* a vida nas savanas não é encantadora?

But first... coffee!


"Atrás de toda mulher de sucesso... existe uma quantia significativa de café." (Stephanie Piro)


"O café tem duas virtudes: é úmido e quente". Provérbio holandês


"Ninguém é capaz de compreender a verdade até beber da deusa espumante do café." Sheik Abd-al-Kadir


Prefiro meu café preto. Existem outras cores?


"Café descafeinado é como o sexo sem o sexo." A.C. Van Querubim


"Café é para o corpo o que a Palavra de Deus é para a alma." (Karen Blixen)


Não há nada mais doce do que uma xícara de café amargo.


Mães são seres inacreditáveis que levantam-se antes do cheiro do café.


Café cheira a paraíso.


"Na verdade, esta parece ser a necessidade básica do coração humano em quase toda grande crise - uma boa xícara de café quente." Alexandre, III.


"Negro como o diabo, quente como o inferno,
Puro como um anjo, doce como o amor." Charles Talleyrand-Périgord


"Tenho medido minha vida em colherinhas de café." T.S. Eliot


Eternidade: lapso de tempo entre o despertar e o primeiro café da manhã.


Beijo é igual a café, quanto mais quente melhor.

*



Para ler ouvindo You're so Vain* (que tem a estrofe: "I had some dreams, they were clouds in my coffee"), na versão totalmente cafeinada da banda brasileira Trash pour 4

*


* aliás, excelente trilha para o Dia dos Namorados - vai anotando! ** todas as citações sem autoria são de autor desconhecido.