quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Da inveja, do terror, dos outros e de nós mesmos


  • ao longo dos anos, esta foto de Bin Laden (aos 15, em férias na Bélgica) vem confrontando algumas de minhas ideologias
  • sempre insuflando o questionamento: como pôde ele ter resistido à força da contracultura nos sessenta e setenta?
  • seguramente ouviu Beatles e as canções pacíficas de Lennon  
  • cantarolou Abba - quem não, for christ sake?
  • e vestiu cores e deixou o cabelo crescer
  • como isso tudo não o comoveu?
  • (e o demoveu, me perguntava?)
  • mas eis que surge o mestre Calligaris e feito ninja, trava a resposta precisa:
"Os terroristas que atacaram o World Trade Center e o Pentágono viveram tempos longos no Ocidente. Frequentaram universidades e escolas de pilotagem. Não eram pastores descidos das montanhas. Os comentaristas estranham: 'Como é possível? Moraram entre nós durante tanto tempo e puderam fazer isso? Ou seja, será que nossa sedução não funcionou?' Justamente: ela funcionou demais. A ponto de eles terem decidido destruir o objeto de seus desejos. A interpretação política de seus atos será sempre insuficiente: as Torres Gêmeas, para eles, eram símbolos não tanto de poder quanto de tentação.

O terrorista é atormentado por uma tremenda tentação de ser "convertido" pelo Ocidente. Por isso o terrorismo nasce derrotado - por ser filho de uma inveja que só existe em quem já se vendeu ao suposto inimigo.
Os terroristas nos matam por raiva de quererem ser como a gente - traíram sua cultura e estão em busca de redenção. Sua guerra santa: matar os infiéis nos quais receiam (e desejam) se transformar. E matar a si mesmos para nunca mais serem seduzidos."
*



* outro textinho poderoso e imperdível sobre a inveja? aqui. (que esse assuntinho não me diz respeito mas, ah... como me interessa - é que de inveja eu não morro, mas mato um bocado!)

Foi um inverno frio, longo e solitário...



  • but now, it's all right!
  • (and I feel that I'm slowly melting, little darling...)


*



* se lhe interessa, nunca nunquinha me canso dessa música. E a versão da Nina (George, te amo, tá?) ultrapassa as esferas desta dimensão. Magnífica!

Sakumi


Tinha também seus pudicismos. Certos assuntos não encontravam morada em sua boca. E não era para ser assim, perguntava-se? Intimidades de alcova, por exemplo, a quem mais poderiam dizer respeito se não a ela mesma? Ao marido não interessavam, óbvio. Havia desistido de procurar o que o interessasse, sempre adormecido, meio morto, meio vivo.

Mas não ela, que o sangue fervia nas veias. E se não falava por respeito, pensava. Ô se pensava. Ruminava. As ideias indo e voltando, sem sair pela boca, só ali, no pensamento, durante o banho, na pia da cozinha, antes de dormir, no trânsito, na fila do mercado, nas reuniões na escola dos filhos, nas salas de espera dos consultórios médicos, nos tempos mortos enquanto olhava o vazio pela janela. Sakumi pensava frequentemente no desejo e no prazer. Dada a sua condição, formara sobre o assunto uma opinião empírica, que prescindia de análises comparativas ou bibliografia especializada; assentava-se apenas na sua vivência pessoal, nas revistas e livros que lera, nos filmes e nas novelas, no pouco que ouvia. Era uma análise sem grande préstimo, na medida em que não servia para os outros. Uma teoria simples, que se adequava à sua vida, explicava as suas atitudes e, especialmente, poupava-a da dor e da humilhação.

O conceito que formulara e que aprofundara com vagar, assentava na primazia do desejo sobre o prazer. Sakumi atribuía uma importância fundamental ao desejo, à gana de devorar o outro, de perpetrar a boca até encontrar um fim, sugar a língua, o interior macio das pernas, tatear com os lábios a curva que se forma entre o ombro e o pescoço. Lamber infinitamente, até decifrar a fórmula exata do sabor e dos cheiros subterrâneos. Era o que lhe satisfazia. E o que, acreditava, valia a pena. Não se pode viver sem desejo, afirmava de si para si. Encarava o prazer, pelo contrário, como coisa menor, um arrepio que chega, mata, desilude, rapidamente esquecido. Os franceses bem nominaram: le petit mort. Vazio, foi assim sempre que lhe pareceu o orgasmo. O desejo, pleno. O prazer, pornográfico; o desejo, poesia. Era uma teoria que lhe convinha. Sakumi sabia que podia viver sem o detalhe cirúrgico da pornografia, mas acabaria por definhar, mirrando até desaparecer, sem a liberdade da literatura.




*



* porque li isto aqui.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um passo à frente e não se está mais no mesmo lugar


Um passo. Uma metáfora tão poderosa em sua simplicidade.

Porque um passo é mesmo só um movimento. Que pode ser à frente. Ou um retroceder. Um impulso para o passo mais largo. Ou a suprema sabedoria de reconhecer o momento sagrado de parar (que não é desistir).

E antes do passo, a coragem.

E ainda antes da coragem, a ideia, a fagulha. Que vai iluminando vagarosamente até acender um incêndio cá dentro, cinzas e chamas. Parece que não vai sobrar nada até que a ebulição alcança o limite máximo de pressão.

E é neste momento que se dá o passo. Ou não. Quem finalmente vencerá a batalha? Coragem ou o Medo? O que nos domina? O que melhor nutrimos.

Ora um, ora outro... 

...



(Dar um passo atrás também pode ser retomar uma ideia, um conceito passado mas não vencido. Tenho me relido. Tantas palavras que espalhei pelos anos sem nem me dar conta que já escrevia, quando só me imaginava leitora... do meu blog hibernante, por exemplo, saquei isto:)




*




* frase no título (e na imagem), Chico Science. ** Saga Falabella é uma das mais importantes cadeias de lojas de departamentos da América do Sul, presente no Peru, Chile, Argentina e Colômbia. *** para a trilha sonora do comercial, músicos peruanos interpretaram um trecho de "Verão", das "Quatro Estações" de Vivaldi. o curioso é que no início, as notas foram tocadas de trás para frente, para reforçar o desconforto que o medo causa. a música só é ouvida em sua versão original no segundo trecho do comercial. **** especialmente para a amiga que se revestiu de coragem para, justo hoje, dar um grande passo. "um passo. um só movimento. nada mais. coragem, doçura. o pior que poderia acontecer já se deu - o que te fez desejar a mudança... para tudo o que houver, conta comigo!"

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Rapunzel às avessas


Procuro no dicionário uma palavra para este arroubo que me toma e bagunça as idéias, confunde o raciocínio, entrelaça as sinapses, tumultua as emoções e o léxico dá-me tantas palavras, tantas mais do que eu esperava, e faz sentido, em tantas sensações me transformaste: agitação, alarme, alvoroço, amotinação, borrasca, bulício, confusão, desassossego, desordem, distúrbio, embate, estrépito, estrondo, inquietação, levantamento, motim, perturbação, rebuliço, revolta, sedição, turbulência. E são apenas algumas, menos de metade, pois agora, diz-me o mesmo pai dos burros, que os antônimos são bonança, calma, harmonia, mansidão, placidez, quietação, sossego, tranquilidade... há que ter peito para afrontar senhores tão distintos quanto Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Luís da Câmara Cascudo ou Antonio Houaiss, mas já se foram, receberam todas as honrarias e coisa e tal, pois se callhou-me de agora contestá-los nem me faço de rogada, que as ideias como tentei explicar e nem sei se consegui, estão bem fora de propósito, e os cabelos já não me desmentem prova que são do nó tramado em que me enrosquei, e se cá tenho sorte é que não me chamo rapunzel que das tranças se salvou aiaiaiai que será de mim agora que a única antítese para este turbilhão, maior que um ciclone e feito um furacão puxando e arrancando-me as raízes do chão é tão somente TU?



*




* quis muito escrever um conto para essa imagem que tenho guardada há tempos e que vem me inspirando. hoje saiu isto: nem um conto, nem coisa alguma, mas que ficou romântico de doer, do jeito que eu desejava.

Síndrome de estocolmo




  • tudo indica que fui abduzida para uma espécie de reino infantil
  • reduto de boa música, cores de sorvete e muito movimento
  • [e nem vem com sedução, que daqui não saio mais!]


*




* deve ser a primavera, não há outra explicação, mas nos últimos dias só me apareceram vídeos fofitos como este comercial da American Apparel, com dois grandes do break dance (não tô de brincadeira, os meninos são feras!): Lil' Demon (Anjelo Baligad) e Jalen Testerman (oi, alguém da American Apparel pra explicar porque o pequeno Jalen não dançou? porque ele não é o "pequeno demônio", mas inferniza igual!) ** a trilha tá um luxo, não? gostou né? Clair de la Lune, by Debussy.

Finalmente os longos dias: de luz, de amor e delírio!



  • quem passa aqui há a algum tempo já percebeu: amo cinema
  • e quem me conhece um tiquito mais sabe bem
  • e até estranha [mas respeita] minha preferência pela animação
  • que é, em minha humilíssima opinião, a arte cinematográfica transformada em hiperbóle: 
  • não é só contar uma história - ou criá-la, quadro a quadro, movimento a movimento
  • mas também fazer nascer das próprias mãos as personagens inteiras, as expressões faciais, as cores, sombras, nuances, cenários, sons, músicas e efeitos
  • (e não à toa que boa parte das animações vai endereçada justo para o público mais exigente que há: as crianças!)

  • feita a introdução, direto para o vídeo de hoje
  • que faz parte do mal amado Fantasia 2000
  • a versão 2.0 dos estúdios Disney para o incensado Fantasia, de 1940
  • [que é magistral, não resta dúvida]
  • ainda mais se lembrarmos que foi todo desenhado manualmente, por artistas do tipo que a tecnologia de hoje não cria mais
  • mas isso não tira o mérito do Fantasia Two Thousand, não mesmo!
  • ah, come on, nem tanto ao mar nem tanto à terra...
  • é só abrir os olhos e perceber que, apesar das diferenças
  • existe beleza no céu e maravilhas no mar
  • [especialmente agora que a natureza nos brinda com mais uma primavera]

"... choupos se dobram, delicadamente,
às margens dos rios, que gracejam
borboletas esvoaçam tranquilas
na mata sombria, mas acolhedora.
Parece-me que todos, a um só tempo, sorriem...

Os dias amanhecem coroados de tenra frescura
sob o imenso céu azul,
o mesmo azul profundo que abençoa
as noites plenas de amor
onde todas as coisa boas e felizes
cantam sua canção infinita."



*




* frase no título e versos em aspas: tradução livre (bem free jazz, nem adianta comparar) do poema Le Printemps, de Victor Hugo. ** a música que faz dançar os flamingos é Le carnaval des animaux, do compositor romântico francês, Camille Saint-Saënsel. *** para o leitor que me pediu para escrever sobre as cores e os sons e as promessas de alegria e dias bons que surgem com a primavera.

Cheek to cheek





Gosto muito de muito em ti: quando te fazes de desentendido quando tentamos, em vão, descobrir quem seduziu quem. Que me saibas dar a resposta de quase tudo que te pergunto. De dizer o teu nome em voz alta. De quando me telefonas no meio do dia só para dizer que estás com saudades. Gosto da meiguice desmedida, desse jorro de ternura que não me dá tréguas e que todos os teus poros façam por me agradar, embora me agrades tanto com tão pouco esforço, naturalmente, assim como se respirasses. Gosto que me seques as costas depois do banho, da tua voz que suspira entrecortada quanto te beijo sem parar. Ou que me venhas pegar de carro quando desatam tão somente uns pingos mirrados de chuva. Gosto de quando te perdes na linguagem crua do prazer e dizes que me fazes e me aconteces e que eu isto e aquilo, enquanto as tuas mãos substituem tua boca. Gosto do hálito suave e ainda ofegante, uma mistura diabólica de poesia, infância no mato e muitos muitos pensares antes do falar. Gosto que não precises de olhar pra trás quando passa uma mulher bonita, quando repetes que nunca nunca vais me abandonar, que sou única, que sou tua. Só tua. Gosto da coragem com que entraste na minha vida, da consciente maturidade com que abriste caminho em mim e do espírito de aventura com que me desbravaste; e gosto dessa segurança tão masculina de não precisar entender meus mistérios femininos. Gosto de te ser muitas coisas: tua delícia, tua linda, o teu dormir, teu sonhar, tua dona, TUA; o bom dia mais esperado da manhã, o boa noite sem o qual não há noite às noites, um aperto no coração, o consolo, o eco na consciência, a urgência e o desejo sempre à solta, arritmias, formigamentos. E gosto dessa tesão fora de hora, quando me adivinhas de costas no escuro e o meu corpo está desprevenido enquanto o resto fica à solta, em sonhos indecifráveis.



*






* mais uma tentativa de explicar o inexplicável - ou quando as palavras são insuficientes, que se baste o corpo, que é o que domina a língua dos deuses... ** outra trilha para este texto? esta, seguramente.

sábado, 24 de setembro de 2011

Redemption song




  • em minha cidade, que é litorânea e reduto de surfistas, as canções de Marley são arroz de festa
  • na vidinha boa que se vive aqui, devo ter ouvido milhares de covers do repertório do ídolo jamaicano
  • tão tristes e vexatórias que, confesso, sou uma traumatizada: passo longe de toda e qualquer canção de Bob!
  • por isso a minha surpresa com este vídeo
  • nem tenho como explicar porque raios fui dar um play e ouvir pela enésima vez outra versão de Redemption Song
  • (e nem o selo de qualidade de tudo que é feito pelo Playing for Change me animava)
  • mas acabei por capitular - graças! - e agora não me canso de ver e ouvir este clipe, over and over, nestes últimos dias
  • a cada audição, o encanto e a emoção crescendo,
  • junto com a percepção da riqueza de texturas que os músicos around the world e seus instrumentos agregaram à canção original
  • (e faz favor, não tira os olhos da tela, porque as imagens - um desbunde de edição - são simplesmente cativantes!)

...

"A música é uma afirmação da vida. Não é uma tentativa de trazer ordem ao caos, nem de sugerir melhorias na criação, mas simplesmente uma forma de despertar para a verdadeira vida que estamos vivendo." John Cage.


*



*depois de uma ausência sentida, retomo minhas atividades de lazer (que é como considero este blog) com uma canção que é também um pedido de desculpas, uma [éspecie de] redenção. ** esta não é a primeita vez do Playing for Change no blog. Tem outra linda [lembra?] aqui.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

a fama dos portugueses


... não se aplica às portuguesas!


*


tua mão...


de tudo, o que mais sinto falta são tuas mãos.
a maneira como seguras a caneta entre os dedos
e escreves teu nome junto ao meu

tuas mãos enlaçando firmente minha cintura
teus dedos indo e voltando,
desenhando nos meus lábios meu sorriso

a maneira como elas inclinam meu queixo para cima
à procura do beijo
e as ondas suaves que desenham no ar
quando me contas de ti

dos gestos que me varrem
e da gentileza dos toques
da suavidade que jorra
da ponta de teus dedos

e quando já não há mais uma palavra a ser dita,
quando enlaçamos simplesmente nossos dedos na escuridão.



* 

domingo, 11 de setembro de 2011

Iluminada, como um incêndio


"Noite passada sonhei contigo. Os detalhes do que aconteceu não posso precisar. Tudo o que sei é que nos mantivemos mergulhando um no outro. Eu era você, você era eu. Até que, não sei como, você pegou fogo."


(trecho de carta escrita por Franz Kafka à Milena Jesenska, em 1921)



*




* cartinhas românticas, sonhos eróticos e Kafka... um bom resumo de minha juventude nestas três palavrinhas. 

Algures


... neste blog há uma garrafa a boiar com um papel dentro que diz 
"eis a canção para o meu funeral".



*



* se possível, quero ouvir todos cantando o refrão juntos. terminada a música, terminado o funeral. combinados? obrigada.

...e o impacto brutal das imagens rasgando a retina



daqueles dias guardo a estupefação. o olhar vidrado. o menear repetitivo de cabeça. autômata, feito um metrônomo. a sensação de viver um pesadelo. a espera do despertar. a anestesia dos sentidos pelo medo... e o impacto brutal das imagens rasgando a retina. ainda há quem negue os campos de concentração, a ida do homem à lua. mas jamais haverá quem possa negar o 11/09/2001.

*

sábado, 10 de setembro de 2011

Obsessão (2)


Conduzir na saliva
um candelabro aceso
um chicote de gozo
nas palavras

E a seda do meu corpo
já te cede
neste odor de borco em que me abres

Sedenta e sequiosa
vou sabendo
a demorar o tempo que se espraia
ao longo dos flancos que vou tendo:
as tuas pernas
vezes teu ventre

A minha língua
vezes meus dentes
na pressa veloz com que te rasgo.


Maria Teresa Horta, Gozo IX



*

 


* porque hoje é sábado. porque o sol voltou. porque tudo transbordou por aqui. porque estou obcecada por Maria Teresa Horta. (quisera transformar este blog em páginas dos livros dela, uma homenagem escancarada, uma após a outra, como os poemas desta senhora...)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ler é sexy





















*





* para todos os que amam ficar bem paradinhos, só lendo; para os que acreditam que só com exercícios ficamos irresístiveis; para os que sabem que a sedução é intangínvel, mas que pode ser folheada, com os dedos... ** Beto, ficou faltando uma foto sua aqui, abrindo a galeria com honra.

Minha escolha, meus caros, é a euforia



"Ora, nosso século nos fez compreender uma coisa enorme: o homem não é capaz de mudar o mundo e nunca irá mudá-lo. É a conclusão fundamental de minha experiência de revolucionário. Conclusão, aliás, tacitamente aceita por todos. Mas há uma outra que vai além. Ela é teológica e diz: o homem não tem o direito de mudar aquilo que Deus criou.

Pode-se substituir completamente a humanidade por uma outra, isso não impedirá que continue intacta a evolução que vai da bicicleta ao foguete. O homem não é o autor dessa evolução, é simplesmente um executante. E mesmo um pobre executante, já que ele não conhece o sentido daquilo que executa. Esse sentido não nos pertence, só estamos aqui para fornecer a Deus a carne humana.

Pois a Bíblia não nos pede que encontremos o sentido da vida. Ela nos pede que procriemos. Amai-vos e procriai. Entende? O sentido desse 'amai-vos’ não significa absolutamente amor caritativo, misericordioso, espiritual ou passional, mas quer dizer simplesmente: fazei amor!, copulai! trepai! É nisso e apenas nisso que consiste o sentido da vida humana. Todo o resto é besteira.

Por que vivemos? O que é essencial na vida? O essencial é perpetuar a vida: é o parto, e aquilo que o precede, o coito, e o que precede o coito, a sedução, isto é, os beijos, os cabelos soltos ao vento, as calcinhas, os sutiãs bem cortados, mais tudo o que torna as pessoas aptas para o coito, isto é, a comida, não a gastronomia, essa coisa supérflua, mas a comida que todo mundo compra, e com a comida o papel higiênico, as fraldas, o sabão em pó. É o círculo sagrado do homem, e nossa missão é não apenas descobrí-lo, aprendê-lo e delimitá-lo, mas torná-lo belo, transformá-lo em canto.

Nossa vida não passa de miséria maquiada! Nós somos os maquiadores da miséria! E nesse caso, onde está a grandeza da vida? Se estamos condenados à comida, ao coito, ao papel higiênico, podemos ainda nos orgulharmos de proclamar-nos livres?
A liberdade... ora, ao vivermos nossa miséria, pode-se ser infeliz ou feliz. É nessa escolha que consiste nossa liberdade. Somos livres para dissolver nossa individualidade na panela da multidão com um sentimento de derrota, ou então com euforia. Minha escolha, minha cara senhora, é a euforia."




*





* trecho [recortado] do livro Identidade, de Milan Kundera. ** pra ti, Fábio T.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Posso te dar uma pausa? (2)



  • Ormie the Pig ganhou 8 prêmios de animação em 2010
  • e todas as risadas possíveis neste feriado bichado pela chuva!



*




* para minha amiga Maria, que sempre me garante boas risadas e sua incontrolável obsessão por bolachinhas amanteigadas caseiras com pedacinhos crocantes de coco queimado que se desmancham na boca... (ficou com água na boca? imagine eu, que estou a 800km de distância, só vi as fotos na madrugada e já sei que não sobrou nenhuminha!)  

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

pensando na Itália...

e na crise que assola a Europa (e o mundo):

"El viejo mundo se muere. El nuevo tarda en aparecer. Y en ese claroscuro surgen los monstruos." Antonio Gramsci (1891-1937)




*



* Gramsci é italiano. mantive a frase em espanhol, como a encontrei, porque ao traduzir não consegui a mesma força.

Nada revela melhor um romântico


do que a ânsia de querer partilhar a vida com alguém quando à sua volta só há parelhas que apenas partilham a casa.




ah, l'amour... o mais sublime dos equívocos.



*



* a primavera chega, derrete o gelo, faz florescer os campos e inunda a vida de promessas - todos os anos...

domingo, 4 de setembro de 2011

That's all




Não adianta: não se perdoa ou se supera a traição, simplesmente aprende-se a duras penas que é mais fácil e menos dolorido deixar de questionar o passado, de analisar o presente e de planejar o futuro.
Com a traição, aliás, não há futuro.

*





* sim, os sonhos morrem... "the only  truth is that everyone is going to hurt you; you just got to find the ones worth suffering for". Bob Marley

Mantra


e tenham todos uma boa semana!



*




* eu avisei. nem vem, que já vou mostrando as garrrrrras!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

há um ano que isso não me sai da cabeça



Uma mulher teve segundos para decidir entre salvar a vida do filho, de 16 anos, ou da filha, de dois, quando o carro que dirigia caiu dentro de uma represa em Lincolnshire, nordeste da Inglaterra. Segundo a imprensa local, Rachel Edwards perdeu o controle do veículo e os três ocupantes foram lançados para dentro da água. O adolescente morreu.

Rachel, que estava grávida de seis meses, conseguiu escapar pela janela enquanto o carro afundava. Ela mergulhou a mais de três metros de profundidade para tentar resgatar os filhos Jack e Isabella, quando percebeu que não teria como levar os dois de volta à superfície. Ela decidiu, então, pegar primeiro a criança. Mas, não conseguiu voltar para salvar o rapaz.

Paramédicos chegaram ao local e a impediram de mergulhar de novo. O acidente aconteceu em setembro de 2010, mas Rachel não consegue superar o trauma. Jack estava sentado no banco da frente e, minutos antes do acidente, a mãe havia pedido que fechasse sua janela por causa do vento que batia em Isabella. "Desde então, eu passo todos os meus momentos pensando em como eu poderia ter salvado meus dois filhos", disse. Os serviços de emergência conseguiram tirar Jack do veículo, mas ele já estava inconsciente e foi declarado morto quando chegou ao hospital.



*



* fico doente quando penso nisso. gelo as maõs até os ossos. calo inteira. embaço o olhar: não quero nunca mais enxergar. já até revivi a cena, em pesadelos, no mar, com um tsunami se aproximando. quem salvo? quem? acordo apavorada. uma sensação mostruosa de pavor: DESESPERO!

Wild thing



  • estes são os créditos finais de Something Wild,
  • primeiro longa de ficção do Jonathan Demme, lá em 1986...
  • nem sei como conseguia, mas tinha em casa, para meu desfrute, o LP com a trilha do filme
  • (não sei como consguia. hoje me espanto: tudo tão raro, difícil e longínquo naqueles tempos de braziuú)
  • dancei muito embalada pelos acordes dessa canção, na sala desmobiliada do apêzinho onde morava, na fria Curitiba
  • (e, de verdade, não lembro de ter passado muito frio... a juventude me incinerava)
  • e lembro como enlouqueci com o visú da Lulu, personagem da Melanie Griffith: o cabelo carré (Louise Brooks!), as bijoux africanas, o carro antigão estofado com chita, o batom vermelho e os óculos azuis, com dois astronautinhas nas hastes!
  • então ficaadica: quer se divertir e entrar de cabeça na tendência oitentinha que ensaia retorno?
  • assiste o filme, consegue a trilha (tem uma do David Byrne que é outra pérola: Loco de Amor!) 
  • e se perde nas aventuras da irreverente Lulu que seduz o cara certinho (Jeff Daniels - por onde andas?) pra fugir do vilão malucão (Ray Liotta, impagável!)
  • pra quem, como eu, gosta que se enrosca em uma mistureba das boas.
...

  • só fofocando: parece que foi depois deste filme que Antonio Banderas (o galã da época - uma mistura de George Clooney com Javier Barden) enamorou-se de Melanie.
  • (segura: até hoje!) 
  • também... pudera!

*






* sentiu minha falta? não sinta mais: voltei selvagem e empolgada como nunca!