segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Somos todos estrangeiros ...


... com um mundo inteiro dentro de nós.



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* agora vê se consegue viver uma vidinha aí pequenininha, tipo média 7, só pra ir passando, de um ano para o outro, depois desta revelação...

domingo, 27 de novembro de 2011

Feeling this way today





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* Freud disse uma vez que as pessoas se revestem de muita força quando se percebem amadas. Ok, e a força que nos é tirada justamente pelas pessoas que mais amamos? hã? hein?

Quando o silêncio ensurdece


"A incomunicabilidade não é aquilo que não se consegue dizer, mas aquilo que ainda não se disse ou, mais precisamente, o que não tem como se dizer.

O que torna insuportável uma relação é que aquilo que não tem como se dizer é, num certo sentido, todos os dias dito. E ninguém aguenta ouvi-lo muito tempo."

 
 
*
 
 
 
 
 
* fala extraída de Climas, filme do cineasta turco Nuri Bilge Ceylan. Climas ilustra simultaneamente a mudança de estações durante o ano e a ruptura de relações num casal, com renovação de temperaturas e sentimentos quando o ciclo volta ao começo. "Climas é um filme feito das sutilezas próprias da amargura. Não existe aqui propriamente uma felicidade, uma satisfação perante a vida, existem palavras que ficam por dizer, sentimentos que ficam por explicar. Há momentos que não voltam e há tempos que passam, de repente é tarde demais. Mesmo que nos pareça que o tempo se prolonga até à eternidade nos grandes planos de imagem, belíssimos, longos e extremamente significativos. [...] Climas vive destes desencontros na vida das pessoas, alimentado por uma bela fotografia e por momentos de suspensão temporal baseados em grandes planos, em tempos longos, como se não existisse tempo. E ficamos com essa sensação de angústia sem tempo, que pode durar toda uma vida. É um filme amargo, sem grandes esperanças, que aceita as evidências."

Adoração


Nenhuma religião pode ser verdadeiramente casta. Não é por acaso que "adorare" significa "levar à boca".





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* citação, Pedro Mexia. ilustração, Manara!

sábado, 26 de novembro de 2011

Das histórias que não escrevi mas poderia ter escrito







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* sempre desejei escrever roteiros de cinema. (não é fantasia! durante muitos anos dediquei-me com afinco: fiz cursos, comprei livros, estudei... e escrevi, claro, tenho muitos rascunhos e histórias acalentadas por anos, aguardando para saírem da cacholinha). esta acima, escrita por Carlos Gerbase e Giba Assis Brasil, por exemplo, poderia bem ser minha: estabelecer relações entre o amor e o consumo - e situações inusitadas em supermercados - é "super minha cara".

Das canções que não escrevi mas poderia ter escrito...



  • mas tô cantando 
  • [bem alto!]
  • como se pra mim fosse escrita.

  • Bom sábado!


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* e aproveito pra deixar registrado: sempre gostei dessa menina!

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ma chérie


  •  alguém aqui com fetiche por palavras?
  • (especialmente as pronunciadas em francês, em português de Portugal, em irlandês, com sotaques, com vogais prolongadas?)
  • alguém doce e leve feito algodão doce cor de rosa em parque de diversão em domingo de sol de primavera?
  • alguém que quando ri te faz rir por inteiro?
  • alguém que te vem à memória sempre que ouve uma música fofa, romântica animada ou que te dá vontade de sair dançando?
  • alguém pra quem não tem vergonha de enviar poemas e até declamá-los em voz alta ou sussurrante de emoção?
  • alguém que é, enfim, toda alegria, riso, fofura...
  • ... cobertorzinho no inverno, refresco no verão,
  • palavras lindas ditas no momento certo,
  • mansidão na imensidão?

  • "para você - por isso - os cantos que aqui seguem!" (W. Whitman)



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para minha ma chérie amie, Maria Goreti - o riso mais frouxo e voz mais doce do oeste. era pra ter "subido" no seu aniversário - no começo de novembro! - caso eu não tivesse subido em um ônibus rumo ao longínquo interior do Paraná para abraçá-la, in loco. perdi o prazo, mas não a cara de pau (!) ** Ma chérie faz parte do disco Edifício Bambi, que tem lançamento previsto para o fim do ano e marca a estréia da banda paulistana Hidrocor. O webclipe foi produzido por Fernanda Vidal em parceria com o vocalista Marcelo Perdido. Marcelo explica: “A idéia foi da Fernanda e tem um toque de 'gnomo da Amelie Poulain'. Uma viagem mágica ao mundo de um casal de bonecos de bolo de casamento que sai em lua de mel pela Europa."

Da sorte de encontrar pessoas na vida ou da sorte de se encontrar


Encontrar alguém que reúna todas as características que sempre desejamos em uma pessoa especial, não é algo que acontece por acaso.

Ter alguém que nos compreende, que nos lê, que nos entende, que sente e sabe sempre, que acalma e nos ama da forma que sempre sonhamos, é ainda mais raro, mas acontece! 

E é como um presente dos céus, um alívio, um conforto, um acalento de corpo e alma quando percebemos que sem máscaras, escudos ou segredos somos mais leves e felizes. Que a cumplicidade é deliciosa quanto maior se estabelece. Que o desejo e a vontade de estar junto para sempre e mais uns anos não exaure e nem aborrece.

E os sorrisos? Basta vislumbrar o ensaio de um, ainda incipiente, no canto dos lábios do amigo que outro sorriso já vem nascendo nos nossos lábios, o coração vibra, o corpo todo se alegra. Assim também com as piadas que ninguém mais entende, mas aos amigos fazem rir desbragadamente às primeira palavras. Com as músicas que nos embalaram e que nos representam. E nos abraços, em cuja intensidade concentra-se a paz de uma vida. Um entendimento tácito, um delight no outro...

O amor amigo resiste à distância, às saudades, às lágrimas, aos apertos no peito, às incertezas... Uma dimensão do amor que perdura pela vida, nas pequenas lembranças, nos detalhes, no que passa imperceptível à rotina dos dias. São desses flagrantes que construímos a memória de nossa amizade e que, ao final, revelam-se como nossa mais profunda essência - instantes que valem pela própria vida e pela vida inteira!

Simplesmente porque são esses momentos - e essas pessoas - que nos fazem sentir incomparavelmente felizes.


...


(ainda com o Dia de Ação de Graças on my mind: tão bonito isso de ter um dia no ano para refletir sobre os motivos pelos quais somos gratos em nossas vidas... um dia para agradecer a todos os amores amigos que me construíram, que generosamente ofereceram-se para mim, que comungaram comigo de seu tempo e me presentearam com experiências que trouxeram à tona o inebriante arrebatamento de estar viva. Viva!)




 *






*para os amigos de toda a vida: Marlu Vieira, Agnès Van de CasteeleMaria GoretiWagner SeraphimGabriel LegerRoberto Mafra, João Batista CorreaRayAndré Thiago e a todos meus preciosos leitores.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Gratidão



  • Lucas Jatobá é brasileiro e mudou-se para Sydney, na Austrália
  • Na data de seu aniversário de 30 anos, em agradecimento pela acolhida que recebeu da cidade e de seus moradores,
  • distribuiu 30 presentes a pessoas desconhecidas pelas ruas.
...
  • O presente que recebemos a cada manhã é uma dádiva que não pode anoitecer sem agradecimento...

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* porque hoje é Dia de Ação de Graças, conhecido em inglês como Thanksgiving Day, um feriado celebrado nos Estados Unidos e no Canadá [xenofobia não é praia deste blog, ok? aliás, xenofobia é uma palavra tão feia em conceito e som, que nem deveria existir]. Neste dia, observado como um dia de gratidão pelos bons acontecimentos ocorridos durante o ano, as pessoas agradecem as graças recebidas, geralmente em família ou junto das pessoas que mais amam, com lautas refeições e orações (os primeiros Dias de Ação de Graças na Nova Inglaterra eram festivais de gratidão a Deus, em agradecimento às boas colheitas anuais. Por esta razão, o Dia de Ação de Graças é festejado no outono, após a colheita ter sido recolhida e é comemorado na quarta quinta-feira de novembro).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Conta-me outra vez


Conta outra vez, é tão encantador
que não me canso de ouvir.
Repete outra vez que o casal
do conto foi feliz até morrer,
que ela não foi infiel, que a ele sequer
ocorreu enganá-la. E não te esqueças
de que, apesar dos problemas,
continuavam se beijando toda noite.
Conta-me mil vezes, por favor:
é a história mais bonita que conheço.




Amália Bautista




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* porque hoje vi na vitrine uma t-shirt onde se lia "I have the right to remain romantic..." (mas não comprei - antes, o dever de deixar minhas contas em dia!)

Utopia



  • "Embora o amor mundial continue sendo uma utopia, o convite a não odiar e o combate à cultura do ódio nos parece um objetivo bastante realista." Alessandro Benetton, chairman da Benetton, sobre a nova campanha da marca, Unhate.




  • "E aquilo que nesse momento se revelará aos povos/Surpreenderá a todos, não por ser exótico/Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto/ Quando terá sido o óbvio." Caetano Veloso, Um Índio.



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* sabia que utopia é um termo inventado por Thomas More para o título de um de seus livros, escrito em 1516? Que More encantou-se com as narrações extraordinárias de Américo Vespucio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503, e decidiu escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita? [da wikipedia] ** só para constar que a utopia não é fantasianasce na mente dos homens e tem endereço. real.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Eu, tu, ele, ela and all inclusive...


As pessoas [todas] quando não querem ver a verdade verdadinha, aquela que está linda e maravilhosa à frente dos olhinhos, arranjam todas as desculpas e mais algumas para fugirem do inevitável. Assobiam para o ar, fingem-se de mortas, inventam de dar brilho à prataria, arear as panelas, falam da vida da vizinha, da vizinhança e de toda a família [eis a razão dos vermelhões de orelhas - és cunhado? cunhada? então sabes.]

...

Daí que chega o dia em que a vida as confronta com o que andaram a escamotear. É neste preciso momento que a casa cai: fazem beicinho, enchem de lágrimas os olhinhos muito fingidos e dizem, com o ar mais espantado do mundo: "o quê? não posso! não acredito! isto não está acontecendo! como é que é possível?".

...

Háááá! Nem vem! Quem estão tentando enganar?

 
 
 
*
 
 
 
 
 
* e eu, myself, ainda caio nessas... uia! ** adaptado de miss glitering.

sábado, 19 de novembro de 2011

Feeling this way today



  • Martha and The Vandellas, no início dos anos 60




  • Mick and Bowie, no meio dos 80's.
  • e euzinha, em 2011, me segurando aqui de vontade de ir pra rua dançar.



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*uma dúvida: saio com a coreô da Martha ou do Mick?

Première


"É mais que geografia ou anatomia: a curva do teu ombro é também aquela curva perigosa da estrada para a praia, o cheiro da garapa misturando-se com a maresia, o pára-brisas coberto por insetos kamikaze, a música tão alta que não se ouve o motor.

E a boca? Comedora de verões em cada melancia que escorre pelo queixo, lábios que bebem direto no gargalo, língua com língua no jogo de quem beija mais. E os dedos fazendo granadas de areia molhada, as omoplatas sapecadas de sol, os joelhos esfolados no chão do quarto onde a humanidade inteira parece ter perdido a virgindade.

Todo o teu corpo é marcado pelo verão: tatuagens desbotadas pelo sol; essa fronteira entre a pele morena e a pele branca, que começa uns quantos dedos a sul do umbigo; o peito transpirado colando-se no tecido que esfria assim que sentes o ar condicionado; a comichão dentro do nariz se mergulhas e quase respiras a água salgada; a disponibilidade que a tua pele apresenta para indagar outras peles...

Em cada verão teu corpo recorda e renasce, para garantir que é no verão que tudo se exagera e revela.

Tem sido assim em todo lugar. Chega o verão e perde-se, uma vez mais, a ingenuidade da primavera. Os corpos dilatam, conseguem-se boas cicatrizes, as histórias aparecem, cabem mais pessoas e mais tempo nos dias longos.

Mas nesse teu corpo específico, o verão já começou há muitos verões.

O verão faz première no teu corpo."


Hugo Gonçalves






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* porque ainda não é verão, mas aqui já é... [Verão é um estado de espírito!]

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Nível


...

"Posso falhar o editorial,  mas leio, com fidelidade diária, a meia dúzia de mensagens eróticas do jornal Público. Interessam-me. Não há rabos, nem mamas gigantes, não se prometem regabofes, nem orgias, não há gays, nem travestis, nem peludinhas, nem rapadinhas. Não há quantidade, mas qualidade. Tudo é elevado, discreto, a prostituição apresentada como coisa distinta, secreta, aristocrata até. Esta semana, porém, três senhoras de alto nível, na sua vitrina do jornal, tem vindo, diariamente, à procura de cavalheiros educados para troca de meiguisses em apartamento de luxo. Se se tratasse de um anúncio publicado no diário de notícias ou no correio da manhã, uma pessoa ainda fechava os olhos. Agora, ali, no Público, no meio da Regina, balzaquiana, senhora culta, licenciada, elegante e do centro de massagem sensual para cavalheiros de nível, o erro ganha outra dimensão. Torna-se grosseiro e tacanho, sobretudo, profundamente desmotivante. Por muito empenhadas que as três senhoras de nível sejam, por muita competência prática que tenham no desempenho do seu ofício, boas mamadas, penetrações profundas e apertadinhas, qualquer cavalheiro de nível, educado, terá de declinar a amável convite. As meiguisses prometidas destoam da elevação geral da coisa. Parecem-me mal. Muito  mal!"
 


*




* antes, um esclarecimento: o anúncio e o texto não têm relação um com o outro. Dito isto, adianto - ao menos, à primeira vista! Primeiro, pelo óbvio - sim, ambos vieram de terras d'além mar. Segundo: o texto veio antes do anúncio e de lugares diferentes. Mas não há como negar o tom elegante e de sofisticada ironia que os dois tratam da "profissão mais antiga do mundo" (desculpe o clichê, mas me divirto com essa denominação - sempre acreditei que fossem as mães as primeiras profissionais da humanidade - equipará-las às prostitustas não é, no mínimo, irônico?). Do anúncio, fica pergunta: - Como este cavalheiro (que recita poemas gratuitamente, afinal um marketeiro sensível!) identifica se suas clientes são mesmo educadas? O texto, da Ana Cássia Rebelo, traz implícita uma possível resposta: ao que parece, em Portugal portugueses e portuguesas não dormem com qualquer um - ah não! Algum nível  - gramatical, ao menos - há que se ter!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Maionese



No ventre de uma mulher grávida, dois bebês conversam:

- Você acredita na vida após o nascimento?

- Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.

- Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida?

- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.

- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída – o cordão umbilical é muito curto.

- Pois eu sinto que há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.

- Mas ninguém nunca voltou pra contar como é após o nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.

- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a Mamãe e ela cuidará de nós.

- Mamãe? Você acredita em Mãe? E onde ela - supostamente - está?

- Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria.

- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma Mãe, por isso é claro que não existe nenhuma.

- Pois muitas vezes, quando estamos em silêncio, posso ouvi-la cantando. E sinto como ela afaga nosso mundo. Sabe o que penso? Que nada, nada mesmo nos separa. Que estamos a um passo de enxergar a verdade. E que nossa vida é só uma preparação para o momento de encontro com a Luz.


...






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 * porque casei-me com um ateu silencioso e gerei um crente convicto (original de fábrica!). porque eu mesma sou uma católica alienada - ou "allleniada" - que adora "discutir a relação" e encontrar-se com o divino na cozinha, enquanto preparo refeições ou asso um pão (tem coisa mais sagrada?) ** o diálogo entre os dois nascituros foi escrito por Ana Maria A. Bonadia e apareceu no meu facebook pelo wanderlust. *** na ilustração, mais um incrível grafite do misterioso Banksy (tem quem acredite que ele é Deus...)

domingo, 13 de novembro de 2011

Alá-la-ô-ô-ô



  • sabe aquelas músicas que a gente canta "cantarolando"?
  • aquelas que as letras têm mais ritmo do que palavras?
  • os três aí de cima montaram um mash-up com várias delas
  •  - na ordem cronológica que foram lançadas!
  • (nem precisa do Pablo, não é Sílvio? Qual é a música, maestro?!)
...




  • e já que lá em cima a mistura ficou bonitinha,
  • por que não mostrar esse vídeo aqui que tem tempo quero postar e não acho leitmotiv?
  • yodel parece nome de macarrão chinês, mas não é...
  • de acordo com a wikipedia é uma forma de cantar que estende as notas e muda o pitch da voz alternando sons altos e baixos.
  • tenho certeza que meus leitores todos conhecem
  • dos desenhos animados ou no filme A Noviça Rebelde...
  • sabem, né? é aquela cantoria utilizada nos Alpes, entre os montanhistas, pra se comunicaram*
  • mas esta junção de gogó tremelicante e língua mais rápida que espada samurai da cantora Jewel, aí em cima
  • eu yodel-ay-eee-oooo duvideodó que tenham ouvido igual...


*


 
* [traduzindo, fica assim - um grita: ó eu aquuiiii. e outro responde: e daí, e daí, e daíííííííííhihihihihihihihi] ** esta é mais uma tentiva de enfrentar com bom humor - e galhardia! -mais uma interminável noite de insônia...

Breve história acerca de um longo - e amargo - conhecimento



"Esther despejava diariamente a alma no seu diário e mantinha com o marido o acordo tácito de que essse caderno ficaria guardado na gaveta da escrivaninha, cujas duas únicas chaves eram uma dela e a outra dele.

Deixava naquelas páginas os indizíveis que nem às paredes se confessam e largava mensagens para o outro, sabendo que este tinha, literalmente, a chave para as encontrar. Havia o acordo tácito de que ali tudo era possível e nada era proibido, naquelas páginas a liberdade dela era total e o segredo não existia.

Viveram assim durante anos, numa confiança selada a tinta e papel, até ao dia em que o marido abriu a gaveta e o diário não estava lá."

 
 
*
 
 
 
 
* Perdi as vezes que ouvi da boca de meu pai o conselho "há que confiar desconfiando" - sempre, como ainda hoje - ouço-o arrepiando-me com o fel que essa verdade destila. E também não foram poucas as vezes em que me questionei sobre a confiança, essa linha tão tênue (quando no lugar deveria haver um pilar!) a sustentar as relações; não à toa, de forma mais ou menos sólida. Uma linha - uma só e muito fina - que treme a um sopro a estabelecer fronteiras sempre derrubadas. Se tudo muda, nós também mudamos e as relações se acomodam tectonicamente a estas mudanças. E assim com as fronteiras da confiança: ora diluem-se, ora esticam e encolhem ao sabor da conveniência, de forma sutil, imperceptível. Até o ponto em que nos percebemos em um jogo, com créditos e descréditos acumulados como fichas - até o momento da ruptura, quando o injustificável encontra o paliativo necessário. É aí que a linha expande-se e a confiança entra em terra de ninguém, sem lei e para além dela... ** a historieta acima é descrita no romance "A herança de Esther", do ioguslavo (ainda existe a Iuguslávia?) Sándor Márai (que eu não li) mas soube por Leonor, que escreve aqui.

... 'cause love is [also] joy!


Marilyn Monroe e Arthur Miller

Joanne Woodward e Paul Newman

Dianne Keaton e Woody Allen

John Lennon e Yoko Ono


...




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* ok, então vamos lá: "Amar é sofrer. Para evitar o sofrimento você não deve amar. Mas, dessa forma, você sofre por não amar. Ou seja, amar é sofrer; não amar é sofrer; sofrer é sofrer. Ser feliz é amar. Ser feliz, então, é sofrer, mas o sofrimento te faz infeliz. Ou seja, para ser feliz você deve amar ou amar para sofrer ou sofrer de tanta felicidade. Espero que tenha entendido." Woody Allen ** porque hoje é domingo - e um domingo com cara de sexta - escolhi ser feliz.

...'cause life is [also] joy!



*




* (tanta beleza e delicadeza que quase perco o charminho no título: Dueto!) ** trilha do Beirut, orquestra do artista Zach Condon, um mexicano apaixonado pela musicalidade folk dos balcãs (!) e que por pouco não foi citado por mim neste post, com este clipe aqui.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Feito gaivota planando sobre o mar...




O amor é grande
e cabe nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe na cama
e no colchão de amar.
O amor é grande
e cabe no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade



*




* uma casa assim inspiradora, quantos casais apaixonados acolhe? quanta paixão suporta? quanto amor sustenta? quanto carinho acalenta? quantas memórias constrói? quanta paz difunde? ... uma casa assim, quantos poemas daria?

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Oh yeah!



"Eu gosto de viver. Já me senti ferozmente, desesperadamente, agudamente infeliz, dilacerada pelo sofrimento, mas através de tudo ainda sei, com absoluta certeza, que estar viva é sensacional."

Agatha Christie



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* Na imagem, Agatha e sua prancha de surf, em 1924. (Agatha Christie, quem diria, além de escrever livros policiais, foi também uma das pioneiras do surf europeu [ahãm, uma inglesa surfista, não é surpreendente?]: "Não há nada no mundo igual a isto. Nada como a sensação de correr por sobre a água em uma velocidade que parece chegar a 200 milhas por hora, longe de tudo, no meio do nada, até chegar delicadamente na praia e afundar entre o fluir suave das ondas. Oh yeah."

Murmuration


  • o queixo caiu-me e não restou-me uma palavra sequer depois de assistir a isto
... 


  • uma ideia ocorreu-me, somente:
  • se algum dia eu tiver a sorte de ser perguntada - pelos meus filhos, por alguém que seja - sobre o significado do vocábulo fenômeno
  • não vou recorrer à imagem do jogador de futebol,
  • não não...
  • sem nenhuma palavra, vou dar play neste vídeo
  • mais nada.


*




* murmuration é o coletivo de estorninho - milhares de estorninhos, pássaros que escapam do rigoroso inverno da Rússia e da Escandinávia, viajam distâncias continentais para, no final da jornada, reunirem-se em revoada gigantesca e absolutamente hipnotizante. Para que esse balé aconteça é preciso precisão e habilidades absurdas. Os cientistam estimam um tempo de reação inferior a 100 milisegundos para que as colisões sejam evitadas (basta uma para ferrar com tudo!). Nem mesmo computadores conseguem reproduzir os algorítimos complexos por trás dessa movimentação com a mesma eficiência e harmonia... parou pra refletir? não é abolutamente arrebatador, incrível e lindo, lindo, lindo? ok, fenomenal!

Mais diverso que o universo



Nada me prende a nada.
Quero cinqüenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
Definidamente pelo indefinido...
Durmo irrequieto e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.
Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram.

Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluído de intuições, rio de supor - mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar,
Sempre separando-se de mim, indefinidamente


Álvaro de Campos (Fernando Pessoa), trechos, in Lisbon revisited, 1926
 
 
 
*
 
 
 
 
* já nem me impressiono mais: nunca me canso deste senhor que é sempre novo a cada releitura! ** (Sabe o que me ocorre sempre que o leio? Pessoa só ele. Eu sigo animal - selvagem e incivilizada...) *** na imagem, muro de Portugal, pois, pois, do flickr de tuna bites (que pertence a um grupo que fotografa mensagens escritas em paredes, no chão, nas portas e nos postes - poeticamente intitulado wall wisdom).

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Art & Paul


  • passei a semana lembrando (e cantando) Old Friends/Bookendsda dupla Simon and Garfunkel:
"Velhos amigos - o inverno acompanha os velhos, perdidos em seus sobretudos, esperando pelo pôr-do-sol... Um jornal, voando pela grama, cai nas pontas arredondadas dos sapatos de sola grossa dos velhos amigos. Os sons da cidade trespassando as árvores, pousando como poeira, nos ombros dos velhos amigos...
- Você pode nos imaginar anos à frente, dividindo um banco de praça tacitamente? Que terrivelmente estranho ter 70 anos... Velhos amigos, movendo-se juntos pelos mesmos anos, compartilhando em silêncio o mesmo medo, sentados no banco da praça, como num final de livro."

...

  • costumava ouvir esta canção recostada na parede,
  • sentada no chão acarpetado do meu quarto juvenil,
  • deslumbrada com a foto na capa do LP: um mar de gente!
  • "Concert in Central Park... Nova York... 1981... 500 mil pessoas..."
  • tudo escrito no encarte - que só não trazia repostas a duas dúvidas inquietantes:
  • - Será que nunca ninguém disse ao Simon que ele tinha uma franjinha ridícula?
  • - Por que é que o Garfunkel aparecia sempre atrás, sendo ele tão mais bonito que o Paul?

  • ok, deu pra perceber né?
  • fui sim apaixonada por Arthur Garfunkel
  • [suspiro]
  • ahãm, mesmo sabendo que Paul era o mais talentoso dos dois...
  • talvez por isso, ou por Travolta, muito provavelmente, não dei continuidade à minha devoção por Art
  • entre o bom mocismo de Garfunkel e a dança libidinosa do Travolta, não tive muita escolha...
  • entendam: ainda era uma adolescente, mas a cada segundo, meus hormônios insistiam na lembrança que em breve seria uma mulher.
  • então, com este assunto aparentemente resolvido e enterrado, fui dar com as mochilas nas costas pela Holanda, alguns muitos anos depois.
...

[pausa de 15 segundos para o comercial institucional:]
"Você que é inteligente e por este motivo está aqui. Você que sabe ler entrelinhês. Você é perspicaz e nem precisa de subterfúgios para entender. Preste atenção, esta charada não é pra você: quando na Holanda, faça como Van Gogh - se o negócio complicar, se for mesmo desesperador, arranque as orelhas para não ouvir a voz da consciência. Mas em hipótese alguma feche os olhos - e encare de frente toda a beleza dos tons de amarelo e azul."

...
  • ah, a loucura! ah, o delírio!
  • meus olhos de ressaca de cigana oblíqua nem dissimulavam: eram só os holandeses que viam!
  • em minha fantasia eu acabara de mergulhar em um oceano de Art Garfunkels - feito o que via admirada naquela capa de LP!
  • (todos mais altos que Paul, com lindos caracóis loiros ou ruivos a emoldurar dois faiscantes olhos azuis)
  • mas alto lá! não se engane: não era mais tão menina e já tinha desenvolvido algum bom senso
  • até parece que iria parar todo jovem holandês bonito que encontrava com o um "fazes-me lembrar Art Garfunkel",
  • claro que não! já naquela época como hoje, dava sinais de minha contemporaneidade
  • para todo jovem holandês bonito que encontrava, sacava da minha câmera e... pá!
  • hoje, tenho a certeza de que fui precursora de umas das atividades mais hypes da atualidade: a fotografia de street style
  • e minha coleção de dutches garfunkels está aí para provar-me!


"Long ago it must be... I have a photograph. Preserve your memories,
They're all that's left to you..."



*



* Paul Simon completou 70 anos no mês passado (13 de outubro). Arthur Garfunkel fará setenta daqui a dois dias, em 5 de novembro. Old friends foi escrita em 1968... Ambos são septuagenários. E o livro ainda não acabou...

Um movimento e uma pausa

"E quando perguntaram a Jesus onde ficava o Reino, ele respondeu:
O Reino está em toda parte, mas ninguém o vê.
É representado por um movimento e uma pausa."

...

Este trecho, extraído de um dos evangelhos apócrifos, bem poderia ter saído do I Ching ou do Tao Te Ching, tal similitude com a filosofia oriental.


Um movimento e uma pausa, eis aí a pulsação do universo - como o bater do coração: tum - tum - tum. 

O segredo da harmonia. O processo invariável da continuidade. A eternidade em sua mais profunda intimidade.

Abrir e fechar, contrair e relaxar, agir e descansar, concentrar e dispersar, viver e morrer.

O movimento - pela ativação da energia - absorve e deixa sair; a pausa relaxa, reorganiza e prepara o próximo movimento. Enquanto um lado do coração se esvazia, o outro se enche. Quando uma respiração termina, outra se inicia.

Suavemente. Naturalmente. De tal forma sutil que não se percebe quando passa de um momento para o outro - assim como não percebemos a Terra girar.

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"Em grande parte da cultura ocidental, a morte foi encoberta por vários dogmas e doutrinas até o ponto em que se separou de vez da sua outra metade, a vida. Fomos ensinados, equivocadamente, a aceitar a forma mutilada de um dos aspectos mais básicos de nossa natureza. Aprendemos que a morte sempre vem acompanhada de mais morte. Isso não é verdade. A morte está sempre no processo de incubar uma vida nova.

No leste da Índia bem como na cultura maia, existe um cuidado na transmissão dos ensinamentos sobre a roda da vida e da morte. Nestas culturas, a Morte é carinhosa, abraça os que já estão morrendo, abrandando sua dor e proporcionando equilíbrio. Diz-se que ela vira o bebê no útero para a posição de cabeça para baixo. E que é ela quem guia as mãos da parteira e que abre o caminho pra o leite nos seios maternos. Para eles, a Morte não é má nem mensageira de dor e tristeza; não é a "ladra" que nos rouba aquilo ou quem mais prezamos - não é Morte o motorista irresponsável que destrói a vida e foge em alta velocidade [percebe a confusão?]. Para estes povos, a Morte faz parte da nossa própria natureza, como um relógio interno que demarca os passos da dança da vida. Uma mestra profunda a quem procuram aprender os ritmos. Assim, ao invés de criticá-la ou temê-la, buscam o conhecimento de seu ciclo completo e respeitam sua generosidade e suas lições.

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Morte e Vida não são opõem, mas representam o lado esquerdo e o direito de um único pensamento."




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* escrito como complemento ao comentário do leitor André, neste outro post aqui.  ** trecho sobre Jesus Cristo (primeira aspas), retirado do livro Deixa Sair, de Sônia Hirsch. as segundas aspas foram compiladas de Mulheres que Correm com os Lobos, da psicóloga junguiana Clarissa Pinkola Estés.

La Dama y la Muerte



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  • mais atual, a animação Mourir Auprés de Toi (Morrer contigo) é minha mais queridinha descoberta da semana;
  • dirigida por Spike Jonze (ex de Sofia Coppola e também diretor de Onde Vivem os Montros),
  • Mourir Auprés de Toi é uma história de amor contada com humor
  • ambientada pelos livros da mítica Shakespeare & Co e repleta de referências literárias
  • [o que já seria suficiente pra me encher de fascínio]
  • o curta ainda capricha por trazer um componente - luxuoso! - do mundo fashion:
  • foi executado com paciência e esmero pela badalada designer francesa Olympia Le Tan



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* Olympia Le Tan teve a ideia iluminada de transformar clássicos da literatura em lindas bolsas de tecido bordadas à mão - suas clutch bags parecem-se com livros de verdade! sou perdidamente apaixonada... [usaria muito, caso não custassem a pequena fortuna de 1.350 euros. só por este pequeno detalhe, continuo com os livros dentro da bolsa...]