segunda-feira, 16 de abril de 2012

Da leveza que advém da consistência

  • uma mesa: meu presente desta Páscoa
  • do tipo singelo, com quatro pés e quatro cadeiras
  • nada grande, nada exagerada
  • mas quanta revolução!
  • foi preciso deslocar uma estante de livros e uma cômoda de seus lugares
  • as duas - a estante e a cômoda - recheadas com papéis, revistas, fotos, documentos, cartas e livros, muitos livros
  • tudo fora e abaixo pra mover os móveis de lugar
  • e ainda estamos assim por aqui: tudo fora e abaixo.
  • nem mesmo estreamos a mesa, pasme!
  • desde então, tem servido de apoio para as pilhas do que vai e o que fica
  •  - e as cadeiras receberam a mesma função
  • "o segredo é não abrir as páginas, não se enamorar deles" aconselha a amiga experiente
  • mas já estava - impossível resistir à tentação...

  • aprendi com os chineses [e o feng shui] que livros guardam muita energia:
  • do esforço criativo do escritor, das muitas horas em cima daquelas letras, das outras tantas que demandaram até a aprovação do editor, a impressão, a distribuição...
  • pois os chineses pedem até que se evitem livros nos quartos de dormir e perto da cabeça, na cama, porque afetam o sono
  • já pensou? uma conchinha, um chamego, um cafunézinho de um tipo feito Kierkegaard...
  • nem vem!

  • existem livros que são como uma tijolada na cabeça
  • - racham o coco!
  • na bagunça aqui de casa, um destes voltou às minhas mãos:
  • "A Insustentável Leveza do Ser"
  • e aqui deposito minha dúvida:
  • - teria Kundera tentado disfarçar com o título poético o peso de seu romance?
  • porque - putz - é um catatau!
  • virou o pote da mitologia grega, misturou com Sartre; juntou Nietsche e Freud;
  • entremeou com o bom e insuperável sexo selvagem
  • [além de uma pequena, mas marcante, pitada escatológica]
  • urdiu tudo com a Primavera de Praga
  • e arrematou com os laços de cetim da filosofia...


  • só que... péra aí!
  • que negócio é esse de "uma vez não conta"?
  • "viver apenas uma vida é como não viver nunca"?

  • Kundera, oi? tás me ouvindo?
  • ô meu querido... pois é, chega aqui uma coisica.
  • não me leva à mal não, tá? mas essa não posso levar pra casa, nêgo.
  • acho até que me entendes... os vinte e tantos anos que se passaram pra mim também passaram pra ti, não foi? 
  • tás com mais de 80 agora - com essa idade nem tu te aguenta...
  • larga desse carão, hômi!
  • e prestenção na Mae West:

"Só se vive uma vez, mas se você viver bem, uma vez é o bastante."




*









* valeu, Kun! obrigada pelo insight - mas tô precisando mesmo é de uma ajuda aqui em casa. quer vir me dar uma mão? ** [a citação da Mae li foi aqui, neste vídeo, que merece bem o seu play.]

sábado, 14 de abril de 2012

Penso, logo sou insone












*










* pensar é o preço de não saber.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Hip, yeah!


"A desobediência é uma virtude necessária à criatividade." Raul Seixas


"Novas filosofias eram concebidas com a mesma frequência que minissaias. Parecia que alguma espécie de prisão psíquica tinha sido aberta e todos os jovens estavam tentando escapar de lá." Ken Goffman e Dan Joy, no livro Contracultura Através Dos Tempos



"O movimento hippie antecipou muito do que temos hoje, como a luta pelos direitos civis, a inclusão dentro da história social das chamadas "minorias": negros, mulheres e homossexuais e temas  primordiais como ecologia e sustentabilidade." John McCleary, autor de The Hippie Dictionary


"Nós somos pessoas desta geração, criados em conforto modesto, agora instalados nas universidades, olhando desconfortavelmente para o mundo que herdamos. Quando éramos crianças os Estados Unidos representavam liberdade e igualdade para cada indivíduo. Esses valores, considerados por todos como bons, são exatamente os princípios segundo os quais todos queremos viver como homens. À medida que crescemos, porém, nosso conforto foi invadido por acontecimentos perturbadores demais para serem ignorados. Primeiramente, o fato disseminado e cruel da degradação humana, simbolizado pela luta do sul contra a intolerância racial, levou a maioria de nós do silêncio para o ativismo. Depois, a Guerra Fria, simbolizada pela presença da bomba, trouxe a consciência de que nós, nossos amigos e milhões de seres vivos podemos morrer a qualquer momento. Nós consideramos os homens infinitamente preciosos e dotados de capacidades não realizadas de razão, liberdade e amor. Ao afirmarmos esses princípios, estamos conscientes de sermos contrários às concepções dominantes do homem no século XX: de que fomos criados para sermos manipulados. Nós nos opomos à despersonalização que reduz os seres humanos ao status de coisas. Os homens tem um potencial não realizado para o aperfeiçoamento pessoal, para conduzir a si mesmos, para a compreensão pessoal e a criatividade. O objetivo do homem e da sociedade deve ser a independência humana: uma preocupação não com a imagem ou a popularidade, mas com encontrar um sentido na vida que seja pessoalmente autêntico, uma qualidade da mente não movida compulsivamente por uma sensação de impotência , que irrefletidamente adote valores de status, que reprima todas as ameaças e seus hábitos, mas que permita acesso pleno e espontâneo a experiências presentes e passadas, que facilmente junte os pedaços fragmentados da historia pessoal, que enfrente abertamente problemas perturbadores e não resolvidos com consciência intuitiva das possibilidades, com curiosidade ativa, com capacidade e desejo de aprender. Solidão, estranhamento e isolamento descrevem a enorme distância que há hoje entre os homens. Essas tendências dominantes não podem ser superadas por uma melhor administração pessoal nem por aparelhos melhorados, mas apenas quando o amor do homem supera a adoração idólatra das coisas pelo homem. Substituiremos o poder baseado na posse, no privilégio ou na situação econômica pelo poder e pela singularidade baseados no amor, na reflexão, na razão e na criatividade."

Declaração de Port Huron - manifesto dos estudantes de Harvard, 1962



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* a origem da palavra hippie vem do inglês "hip", que significa "ligado, atualizado". lembrei disto quando encontrei estas fotos de Arthur Schatz, realizadas em um liceu americano para editorial de moda da Life Magazine de 1969. a representação exata de que "estilo é o movimento da alma".

domingo, 8 de abril de 2012

Do tipo "não escrevi, mas bem poderia..."



  • ... se poeta fosse.




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* isso porque sou conhecida pela "risada mais inocente e pura que já passou pelos meus olhos e ouvidos" (sério! tem aspas porque tirei a frase do meu mural do FB!). não é um espanto? eu que pra sempre desejei um sorriso "em que se apetece morrer..."

aos meus leitores



Teu bom pensamento longínquo
me emociona
Tu, que apenas me leste,
acreditaste em mim,
e me entendestes profundamente.

Isso me consola dos que me viram,
a quem mostrei toda a minha alma,
e continuaram ignorantes
de tudo que sou,
como se nunca me tivessem encontrado.




Cecília Meireles





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* obrigada por me aguardarem. volto em gotas, que o vazamento foi grande e já muito jorrou...