Deixo que venha se aproxime de leve pé ante pé até ao meu ouvido
Enquanto no peito o coração estremece e se apressa no sangue enfebrecido
Primeiro a floresta e em seguida o bosque mais bruma do que neve no tecido
Do poema que cresce e o papel absorve verso a verso primeiro em cada desabrigo
Toca então a torpeza e agacha-se sagaz um lobo faminto e recolhido
Ele trepa de manso e logo tão voraz que da luz é a noz e depois o ruído
Toma ágil o caminho e em seguida o atalho corre em alcateia ou fugindo sozinho
Na calada da noite desloca-se e traz consigo o luar vestido de arminho
Sinto-o quando chega no arrepio da pele na vertigem selada do pulso recolhido
À medida que escrevo e o entorno no sonho o dispo sem pressa e o deito comigo.
Maria Teresa Horta, Poema
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* porque hoje celebra-se o aniversário desta imensa poetisa portuguesa [Lisboa, 20 de Maio de 1937], eis, em palavras do corpo, o ato da criação poética, segundo MTH.
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