sábado, 4 de maio de 2013

Só o humor salva [4]


"Aquela conversa de travesseiro, "quem é o meu quindizinho?". "Sou eu. Quem é a minha roim-roim-roim?" "Sou eu", e ele inventou de dizer que jamais se separariam e que ele seria, para ela, como aquele nervinho de carne que fica preso entre os dentes, e ela disse "Credo, Osvaldo, que mau gosto!", e saiu da cama e depois nunca mais. Acabou por metáfora errada."


Luís Fernando Veríssimo, in O melhor das comédias da vida privada

 
*










* porque os dias andam hardcore pelas bandas de cá - sometimes punk, sometimes heavy metal, só aliviando nos finais de semana, que é quando as horas correm em ritmo melancholic gothic - ando sobrevivendo de rir.
que a felicidade é uma escolha. e só o bom humor há de nos salvar. 


** [e esta croniqueta do Veríssimo - as metáforas, o mau gosto - fez -me recordar aquele episódio triste de nossa não tão recente história de costumes entre o príncipe Charles, um "tampax" e sua então amante, Camilla Parker-Bowles. aliás, imperdoável a deselegância da Duquesa da Cornualha: aceitar uma piada tão infame e permanecer pelo resto da vida com o autor dela? shame on you, viu? nem é porque ela foi vértice do triângulo amoroso que abalou o casamento de Charles e Diana, que Camilla sempre esteve na vida de Charles, antes mesmo de Lady Di. parece que Camilla foi uma jovem "sexy, corajosa e de atitude atrevida” (com uma espécie de "devil-may-care attitud', segundo a People. impressionou? é claro que leio fofocas da realeza: no dia que a rainha me chamar para o chá, saberei exatamente o rumo que a conversa não deve tomar) e que tinha "chutzpah” (insolência, audácia em íidiche). e tinha mesmo. sabe a primeira coisa que Camila disse a Charles quando se conheceram? "minha bisavó e seu bisavô foram amantes… que tal isso?". ela tinha 23 anos e ele já era um príncipe. com Diana, Charles foi forçado a fazer um casamento de conveniência. todos na época sabíamos que aquilo era uma farsa. e Diana não subiu no altar ludibriada - uma moça bonitinha (não linda, convenhamos), jovem e completamente sem graça, mas não ingênua. só ficou interessante com o tempo, quando passou a investir na moda a seu favor, a trabalhar com causas sociais, mudou o corte de cabelo e fez amizade com Elton John (nada como um amigo gay) e com a embaixatriz brasileira Lúcia Flecha de Lima - os amigos que finalmente ensinaram à triste Diana os prazeres da vida. que o tempo de sua vida tenha sido suficiente pra aproveitar estes ensinamentos é o grande legado que a ex princesa nos deixou...]

*** e já que o assunto descambou para intimidades, lembrei desta outra, também com o tema 'metáforas', escrita pelo nosso rei das crônicas, mestre L. F. Veríssimo.

"Prezado M:
 
Recebi o e-mail com seu mais novo poema e entendo seu entusiasmo. Realmente, é um raro exemplo de exteriorização poética da angústia moderna, a começar pela reiteração inicial: 'Eu mato, eu mato...'. A brutal assertiva evoca à perfeição a têmpera destes dias, o nosso 'zeitgeist'. Perderam-se as ilusões com a justiça, com as esperanças de regeneração e com todas as instâncias jurídicas. Vivemos num deserto de valores morais. O poeta não diz 'eu reprimendo', 'eu castigo', 'eu mando prender', 'eu condeno'. Diz e repete 'eu mato'. Que retribuição se pode esperar onde a justiça não faz justiça e a cadeia não segura o ladrão? O poeta ameaça fazer sua própria justiça porque não existe outra. Revertemos ao animal primevo com as presas à mostra, num ricto de vingança selvagem. Uma hiena ganindo entre as ruínas de uma civilização falida.
 
Segue o poema: '... quem roubou minha cueca...'. Há aqui algo que evoca Eliot, com seu constante recurso ao aparentemente banal - no caso, a cueca - em contraponto a alusões clássicas e míticas, e que acabou sendo um viés da poesia moderna (Auden, Drummond). Não seria, talvez, demais ler a cueca como metáfora. A cueca representa o que temos de mais íntimo, recôndito, profundo. O que temos de mais nosso. O que o 'zeitgeist' nos roubou. Ou seja: a nossa alma. Onde está 'cueca' leia-se 'alma'. Sem a cueca ficamos nus. Sem a alma também estamos reduzidos a apenas nosso corpo. Mas quem roubou a nossa cueca/alma? Quem trouxe nosso corpo desprotegido para este deserto? Quem merece a raiva do poeta?
 
Que a raiva é merecida fica evidente na última linha do verso: '... pra fazer pano de prato!'. A suprema degradação. Nossa alma secando pratos. O fim de uma geração que conseguiu chegar à Lua mas se perdeu no caminho da privada. Quem é o culpado? Também queremos ganir de indignação como o poeta mas não sabemos em que direção. Para o alto? Para o lado? Para que lado? Quem, afinal, roubou nossa cueca pra fazer pano de prato?
 
Mas, enfim, poesia é isso mesmo, não é não? Perguntas sem respostas. Se houvesse resposta não seria poesia. Só me resta invejar o seu poder de síntese e a síntese do seu poder, que reduz toda a condição humana a um verso singelo, e o Universo a um gemido terminal. Parabéns!
 
E um grande abraço do L."

Nenhum comentário:

Postar um comentário