Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim
Fernando Pessoa, Entre o sono e sonhos
*
*
* a insônia bate à minha porta sem aviso prévio.
- chegaste?
- sabes que não falho.
- és monstruosa em tua irrepreensibilidade.
- eu sei.
- sabes que não falho.
- és monstruosa em tua irrepreensibilidade.
- eu sei.
entra, instala-se no meu colo, nada de licenças, tudo muito certo. encaro-a como quem
encara o espelho - o reflexo que hesito em enxergar, mas que enfim, aceito, como o céu que nos cobre a
existência. olha-me com olhos de gente e escuta-me com gigantes ouvidos
antropomórficos. pede-me que a ajude a compreender-se, mas faz-me pedidos estranhos, mais insanos do que a própria
loucura...
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