"EMBORA os padrões tenham variado muito, a beleza tem sido valorizada em todas as épocas e todos os lugares. Sua avaliação pode ser altamente subjetiva e, ao mesmo tempo, há belezas universalmente reconhecidas.
É um capital simbólico importante não só, mas principalmente, para as mulheres. Ouvi um homem dizer que uma mulher muito bonita pode escolher o homem que quiser. Ele temia não ter cacife, isto é, capital simbólico suficiente para conquistá-la.
Há certo exagero nessa afirmação, mas de modo geral, ter beleza é ter algum poder. A beleza abre portas na vida amorosa e em certas profissões. Depois, é preciso agregar valores como competência e dedicação, para não desvalorizar o capital inicial.
Dá para entender que as pessoas invistam tempo e dinheiro na aparência. E também a dor de quem não se julga bonito e teme ter menos chances de conquistar coisas significativas. A busca da beleza pode se tornar compulsiva e um fim em si mesma.
Mas a beleza não é feita só de traços físicos harmoniosos. Tratamentos estéticos ajudam, mas não garantem graça, charme, sensualidade, carisma e simpatia. Essas características, que dependem do nosso mundo mental, transformam um rosto mais ou menos bonitinho: o conjunto se torna atraente. O ressentimento torna a expressão sombria. A angústia fecha o semblante. A tristeza turva o olhar. O medo infantiliza, encolhe a postura. O ódio deixa os traços duros, enfeia a pessoa. Simpatia e vivacidade têm a ver com estar de bem com a vida. É essencial sentir que o mundo é acolhedor, que algo torce a nosso favor e que nossos sonhos são possíveis.
Carisma tem a ver com a crença de que os outros se interessam mesmo pelo que somos e pelo que temos a dizer. São graciosas as pessoas que habitam harmoniosamente seu corpo e se sentem bem na própria pele. Sensualidade depende das soluções encontradas desde a mais tenra infância para conflitos inconscientes envolvendo o prazer. Depende da convivência amigável entre o Eu, o desejo e o corpo. Esses atributos não podem ser treinados na academia nem comprados em lojas de luxo. Têm a ver com uma forma de viver criativa e com o cultivo de relações significativas. O resultado do equilíbrio emocional é uma autoestima suficiente. Não existem receitas, mas ir atrás disso não parece mais consistente e vantajoso do que cuidar só da aparência?"
- Taí um um assunto interessante... só queria acreditar nele, um tiquito más...
- Coloquei aqui para reforçar este desejo
- ... e ilustrei com a über-poderosa Marilyn Monroe que, para mim, é o exemplo supremo que beleza em excesso nem sempre é uma benção. Pode ser uma maldição.
- Coisas que essas mini-marilyns aqui embaixo nem sonham em saber...
* escrito por MARION MINERBO, psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, na Folha de São Paulo.
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