quinta-feira, 22 de março de 2012

Solo unos piquetitos



Dizem
que o primeiro amor é o mais importante.
É muito romântico,
mas não é o meu caso.

Algo entre nós houve e não houve,
deu-se e perdeu-se.
Não me tremem as mãos
quando encontro pequenas lembranças,
aquele maço de cartas atadas com um barbante,
se ao menos fosse uma fita.

O nosso único encontro, passados anos,
foi uma conversa de duas cadeiras
junto a uma mesa fria.

Outros amores
continuam até hoje a respirar dentro de mim.
A este falta fôlego para suspirar.

No entanto, sendo como é,
não lembrado,
nem sequer sonhado,
consegue o que os outros não conseguem:
acostuma-me com a morte.





Wistawa Milewska, O Primeiro Amor




*







* na imagem, tela de Frida Khalo, da época que descobriu a traição de seu marido, Diego Rivera, com sua irmã, Cristina. Frida imprimiu sua dor e raiva nesta obra. Uma dor tão profunda que não cabia em si - projetou-a nas desgraças de outra mulher. Frida havia lido em um jornal a história sobre uma mulher assassinada a facadas pelo marido. O assassino defendeu-se perante o juiz dizendo: "Mas foram tão somente uns poucos 'piquezinhos'". Kahlo confidenciou a um amigo que simpatizou com a mulher morta pois ela foi "assassinada pela vida"... uma referência ao romance entre Diego e Cristina e à crença de que o amor é vida. As pombas - símbolo da paz - que ironicamente seguram a faixa com título do quadro, representam os dois lados do amor (um claro e outro escuro). Quando a pintura foi concluída, Kahlo deu um toque final para o projeto: num acesso de raiva, esfaqueou o quadro diversas vezes. Em novembro de 1938, a obra foi levada à primeira exposição individual de Kahlo na galeria Julien Levy, em Nova York. ** cuantos piquetitos uno soporta hasta el fin?

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