terça-feira, 29 de março de 2011

Para o amigo que partiu


John-John, my dearest,
cheguei atrasada ao teu enterro (as always)
e não pude oferecer-te minha derradeira homenagem.

[percebeste minha falta?
tenho estado contigo tanto e há tanto!]

Senti, especialmente, não ter teu abraço.
E ainda agora é por teu abraço
teu abraço, teu abraço
que eu choro sem cansaço.

Eu chegaria (as always) acelarada,
com um tropel insano de pensamentos
desfocando meus sentidos
e tu, à minha espera (as always),
sem dizer palavra me abraçaria.

E no teu abraço
teu abraço, teu abraço
(as always)
minha angústia cessaria.

No teu abraço,
como um sopro estival,
sentiria primeiro o perfume antigo,
do tipo que não se vende mais.
E ainda o cheiro de sol,
de areia da praia e de peixes
recém saídos do mar.
E o suor do teu esforço
para tirá-los de lá.

E no teu abraço
teu abraço, teu abraço
(as always)
John-John, my only,
eu saberia que tudo posso,
e que a vida faz sentido
quando se sente no peito
o calor de outro peito
batendo de puro amor.

Foste; mas não levaste nada,
os dias e as noites,
a vida e a morte
 - o Tao -
"Tudo permanece
e passa
é contínuo
e nunca mais é o mesmo"
(sem ti).

Quanto devo permancer?
Quanto ainda devo passar
até me reencontrar no teu abraço

- feito concha onde descansa a pérola -

forever




* João Batista Correia, meu mestre-amigo, faleceu no outono de 2010. Este poema homenagem vem sendo escrito desde então. Nunca termina, nunca é o suficiente... e meus braços sempre pendem nas últimas estrofes, inertes, sem apoio. Mas é chegado o outono. Talvez seja a hora... não sei - desde então não tenho mais certezas. (Já a composição Gabriel's Oboe, de Ennio Morricone, para a trilha do filme A Missão, é a obra mais bem acabada, mais perfeita e plena de humanidade e vida que já ouvi - a música que mais amo para o amigo mais amado.) 

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