quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Eterna. Até o Fim.



devagar, o tempo transforma tudo em tempo. 
o ódio transforma-se em tempo, 
o amor transforma-se em tempo, 
a dor transforma-se em tempo. 
os assuntos que julgamos mais profundos, 
mais impossíveis, 
mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo. 
por si só, o tempo não é nada. 
a idade de nada é nada. 
a eternidade não existe. 
no entanto, a eternidade existe. 
os instantes dos teus olhos
parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos. 
os instantes do teu corpo de luz eram eternos. 
foste eterna até ao fim. 


José Luís Peixoto, in "A Casa, A Escuridão"


*



* às vezes, tenho desejo de me desculpar aos queixosos que me procuram: lamento, mas não fui eu quem inventou o mundo, o tempo, o amor ou morte. quero me isentar da culpa mas não posso, sou conivente...

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