quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Da série Verdades Indissolúveis: Amar é... Lost


"Uma mulher muito bonita me contava outra noite sobre Lost e sobre coisas supostamente difíceis de decifrar.

No que sonhei, nesta mesma noite, com algo mais ou menos assim, repare: Amar é… Lost - começa cheio de perguntas e acaba quase sem respostas. Porque é ridículo que ainda tenha alguém sobre a face da terra que pense no amor como resultado, como algo saudável, como uma casinha longe do abismo.

Amar é flertar com o despenhadeiro, é sempre uma habitação na encosta de um morro. Amar não é casa própria, consórcio, planejamento, carro ou bicicleta. O amor não precisa de quintal ou garagem. O amor não se guarda. Se for amor o ladrão não leva.

Pra ter resultado, joga no bicho ou na megasena. Monta um negócio de lucros, um curtume, uma bodega sortida, uma padaria na rua da Aurora. Entra para a política, faça lobby, venda apólices, gado, adquira uma franquia da Casa do Pão de Queijo. Mas se queres amar, te juega, simplesmente, sem pensar no ponto futuro.

Amar é o lindo negócio da inutilidade. Como o tal do fazer poético. Não serve para nada. É um oco de um tronco de ipê e um pássaro cantando dentro. Fazer um filho ainda não é o amor. Casar tampouco. A propaganda de Becel sem gorduras trans muito menos.

Só existe amor no entorpecimento. Amor é se drogar juntos, sem necessariamente carecer de traficantes ou aviõezinhos. Amar, caro Sam Sheppard, é cruzar o paraíso. É ser vaqueiro e laçar a jukebox, a radiola de ficha, para impressionar a amada-problema. Amar não é com licença. Amar não é bons modos.

Se você ainda não perdeu o sentido nessa aventura, sinto muito, precisa viajar léguas para chegar perto do que estou falando. Amar é um sítio ao qual não se chega com informações ou GPS.

Replay, ao sonho: Amar é… Lost - começa cheio de perguntas e acaba quase sem respostas."


Xico Sá, Amar é... Lost 





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* crônica publicada no blog do autor: Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadás, em 27/10/12 (este comentário, também veio de lá: agora, todo vez que ouvir ‘aquela vadia roubou meu namorado’, vou citar: se for amor o ladrão não leva).**na imagem, foto da série "Amor à Vácuo"; uma criação do artista japonês Photographer Hal, que embalou vários casais em plástico e retirou todo o ar, em uma tentativa de conservar as propriedades do primeiro encontro eternamente, ou pelo menos, que a sensação de idílio dure mais do que duraria se estivesse exposta ao ar rarefeito do mundo exterior. "Em produtos embalados a vácuo não há influências externas. Fungos e bactérias que poderiam deteriorar a mercadoria não sobrevivem à falta de oxigênio. Ou seja, tudo estaria à salvo para sempre, é o happy end tão amplamente divulgado pela cultura ao amor romântico". Para ver mais fotos sufocantes, vá por aqui.

Um comentário:

  1. Xico Sá supera-se a cada novo post. Você também. Combinação perfeita entre imagem e textos.

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