Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.
Cecília Meireles
*
"Seria mais fácil para todos se pudéssemos demonstrar nosso interesse de forma aberta, sem jogos de sedução. Também seria melhor se a recusa ao nosso interesse não causasse dor. A transparência de intenções nos pouparia tempo e aflição, no entanto não seríamos humanos se não sentíssemos frio na barriga e se não criássemos expectativas e fantasias. Essas, em geral, mais atrapalham as aproximações amorosas do que ajudam. É que a paixão não se nutre da realidade. O medo de rejeição paralisa qualquer iniciativa amorosa. Às vezes é preferível viver num devaneio do tipo mal-me-quer/bem-me-quer do que definir uma situação. Enquanto houver possibilidade de envolvimento, há esperança. E viver de esperança pode ser melhor do que ser triste ou rejeitado. Cada um sabe do que precisa para aguentar viver." Luciana Saddi.
*
* Luciana Saddi é escritora, psicanalista e escreve para a Folha de São Paulo. **Poesia com o tema "desenvolvido" é uma outra possibilidade que ando investigando. Mas guardo um tanto de receio... Que tal, aprovado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário