quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Da série Verdades Indissolúveis: velhice


A gente se torna velho
nem sempre quando se tem idade
Às vezes é quando não se tem muita
outras vezes é quando sabemos quem somos
quando dizemos aos outros: eu sei quem sou

Ou quando passamos a pensar em nós de fora
Ser velho é perder o tato com o medo
ser velho é semear angústias transgênicas
ser velho é acreditar nos contornos do espelho

É quando os olhos fazem maquiagem nas flores da face
não por elas serem velhas, infames, cheias de sulcos
mas por elas serem um sonho que descolou do precipício

O tempo sabe quem sou e porque sou e isso me envelhece
Saber quem somos serve apenas para os vermes
que – estes sim – têm certeza absoluta.


Infâmia, Leonardo Morona





*



 
* detalhe e auto retrato do pintor alemão Lucien Freud (que morreu, aos 88 anos, em 21 de julho deste ano). Lucien muito me instiga com sua obra. Suas telas são gigantes, impactando não só pelo tamanho, mas pela crueza: corpos nus, corpos humanos ao natural, com suas formas imperfeitas. Dizia que pintava pessoas, "não precisamente pelo que elas se parecem, não exatamente pelo que elas são, mas como eles deveriam ser". Lucien era neto de Sigmund [Freud]. O avô nos mostrou os abismos de nossa existência; o neto aperfeiçou sua obra, revelando em telas à óleo a alma torturada, a angústia através da pele e do corpo. (aqui, uma galeria de imagens com algumas das telas do pintor).

4 comentários:

  1. Identidade x Cabeça. Ainda fico com a Cabeça, e vc Lu?

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  2. prefiro não dissociar nada (Jack, o Estripador é tão século passado, né não?). Mas explique-se melhor, que esse assunto rende...

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  3. A primeira frase diz ''A gente se torna velho nem sempre quando se tem idade''.. está tudo na cabeça mesmo, essa ''marvada'' que tem o poder de fazer com que agente se torne camaleão, mude, mude e mude. O negócio é cuidar dela, e evitar que alemão tome conta... ou que o Jack a arranque. ( adorei o ''tão século passado'')rsrs... Por que na boa, se depois de levar uma vida única dessas, tudo sumir de uma hora para a outra, credo... mas isso deixa pra um outro post quem sabe!!!

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  4. continuo preferindo não dissociar nada. a cabeça, quando muda feito camaleão, não acho ruim, sabe? é sinal que acompanha o movimento da vida, que é dinâmica e não para, nem com a morte. Pra não envelhecer, como sugere o poema, tento cuidar do corpo e da alma. A mente, deixo-a livre. Que corra, a desvairada!

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