segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A última viagem

"A morte é muito provavelmente a principal invenção da vida" (Steve Jobs). 
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Na festa da vida, a presença indesejada.

É raro quem assuma. E sei que são raros os que quererão me ler, agora que anunciei o tema do post. A humaninade é plena de absurdos. E esta é, sem dúvida, a mais curiosa de nossas idiossincrasias - poucos são os que dão conta da morte. A morte como fato, simplesmente. A morte enquanto morte - mor-te.

E dá-lhe viver a vida disfarçando sua onipresença. Tentando flexibilizar sua imutabilidade. Uns distraídos - desavisados? A maioria aplicada na mise en scéne de realizar - esforço pra suavizar a dor (qual a lógica nisso?)

Todos impotentes. Pudera, diante da morte, quem há de?

A morte é a personagem principal na narrativa da vida. A dama misteriosa e instigante. A certeza que nos aflige de incertezas: - qual seu sentido? como se dá? há justiça no seu ceifar? o que de nós permanece?

E aqui, meu humilíssimo ponto de vista [e a razão destas "mal traçadas linhas"]: seremos refeitos por quem nos ama; reavivados no afeto.

A mágica da vida é o truque da morte - a entrega!

Não lhe parece fantástico? O nirvana de todas as religiões, o idílio de toda a moderna psicologia - o fim final ego! O que fica da gente passa a ser do outro, que se apossa da nossa história. E não importa se deixamos fios soltos, pontos sem nós. Deixamos para os que ficam os arremates por finalizar. Para aquecerem os corações e as vidas com a manta de nossa história... Quanto mais delicada e intrincada a tessitura, tanto maior o tecido, denso e tramado; mais abrangentes seremos, maior o encanto que fica. Permanecemos, mas transformando-nos na história que contam de nós. Cada conto, um ponto... 

E assim é que renascemos: na memória de quem fica, no afeto que deixamos, no amor que partilhamos.

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"Nós vamos morrer, e isso nos torna afortunados. A maioria das pessoas nunca vai morrer, porque nunca vai nascer. As pessoas potenciais que poderiam estar no meu lugar, mas jamais verão a luz do dia, são mais numerosas que os grãos de areia da Arábia. Certamente esses fantasmas não nascidos incluem poetas maiores que Keats, cientistas maiores que Newton. Sabemos disso porque o conjunto das pessoas possíveis permitidas pelo nosso DNA excede em muito o conjunto de pessoas reais. Apesar dessas possibilidades assombrosas, somos eu e você, com toda a nossa banalidade, que aqui estamos." Dawkins, in Deus: um delírio.
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"Morrer não é acabar, é a suprema manhã"  Victor Hugo


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* carissímos amigos e amados leitores deste blog, venho escrevendo este post como uma réplica a este outro, no qual recebi número recorde de comentários, tão amorosos e preocupados que senti-me no dever de explicar: a morte é só um pretexto. Se escrevo sobre ela, atentem é porque busco seu avesso. A VIDA é o que me interessa. Peço-lhes permissão, então, para continuar com este tema (venho colecionando imagens, textos e vídeos sobre o assunto) só até o dia 2 de novembro, posso?

Um comentário:

  1. Pode sim, até dia 2 de novembro e sempre que quiseres..afinal de contas você ''busca seu avesso. A VIDA é o que te interessa.'' (adorei isso)...
    Fico feliz que estás de volta, não aguentava mais bater na porta e ver a casa igual ;D

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