A hora do cansaço
As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho de eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.
...
Mortos que andam
Mortos que andam
Meu Deus, os mortos que andam!
Que nos seguem os passos
e não falam.
Aparecem no bar, no teatro, na biblioteca.
Não nos fitam,
não nos interrogam,
não nos cobram nada.
Acompanham, fiscalizam
nosso caminho e jeito de caminhar,
nossa incômoda sensação de estar vivos
e sentir que nos seguem, nos cercam,
imprescritíveis. E não falam.
...
[...]
O amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
...
No mármore de tua bunda
No mármore de tua bunda
No mármore de tua bunda gravei o meu epitáfio.
Agora que nos separamos, minha morte já não me pertence.
Tu a levaste contigo.
*
* "mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão... " porque hoje, 31 de outubro, é celebrado o aniversário de nascimento de Carlos Drummond de Andrade, um mineiro de opiniões fortes e língua ferina, que escreveu intensamente sobre as coisas do amor, do sexo e da morte [escorpiano, né?].
Bom, sempre, recordar Drummond! Tão suave e ao mesmo tempo tão instigante...(mas até com ele o tema recorrente?)
ResponderExcluirAmor, Sexo e Morte... Pense em uma imagem 3D - cada face, um aspecto - os três, uma coisa só... (não dá pra evitar: escorpianos são mesmo obcecados e obscenos até os ossos quando chafurdam em uma pesquisa. Desculpe, minha querida, a partir de amanhã - prometo! - dou uma trégua ao assunto).
ResponderExcluirAi ai, esses mortos que andam..estamos cercados deles!!!
ResponderExcluire olha André, que os mortos de Drummond frequentavam bares, teatros, bibliotecas... os de hoje nos seguem pelo twitter ou facebook e não fazem mais que replicar nossos comentários...
ResponderExcluirOlha, bares e restaurantes, talvez hoje eles ainda conheçam... agora ''essa tal de biblioteca'' eu duvido!!!
ResponderExcluirpudera, se já é ruim encontrar uma biblioteca, quiçá encontrar-se em uma...
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