Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa, variada em cópias iguais.
Não. Cansaço, por quê?
É uma sensação abstrata
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque ouço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Alvaro de Campos (Fernando Pessoa), in.: Poemas
*
* porque me ocorreu ouvir Lana Del Rey no repeat. a voz metálica, a melancolia da canção fizeram hipérbole na nostalgia que ando sentindo. saudades do não vivido. do que ficou para trás sem ser sentido e que hoje faz tanto sentido... "na verdade, amiga, o que me mata é o cotidiano. Eu queria viver só de exceções" (Clarice Lispector). ** frase no título: Pedro Mexia.
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