sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Só o humor salva [3]



"As câmeras de Capa provocaram enorme rebuliço. As mulheres o chamavam aos gritos enquanto ajeitavam seus lenços e suas blusas, tal como as mulheres fazem em qualquer parte do mundo quando vão ser fotografadas.

Havia um mulher em especial, de rosto cativante e riso contagioso, que foi escolhida por Capa para um retrato. Ela era a mulher mais espirituosa do vilarejo.

- Não apenas sou uma trabalhadora de mão cheia, como já enviuvei duas vezes e agora, os homens morrem de medo de mim - E ela brandiu um pepino  diante das lentes de Capa.

- E você toparia casar-se comigo? retrucou Capa.

Ela jogou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada.

- Olhe aqui, disse ela, se Deus tivesse consultado o pepino antes de fazer o homem, não haveria tantas mulheres infelizes no mundo."





*










* durante quarenta dias, entre agosto e setembro de 1947, John Steinbeck e Robert Capa viajaram pela Rússia (mais precisamente, Kiev, Stalingrado e os balneários da Georgia, além da capital Moscou). Steinbeck já era um escritor respeitado, vencedor de um prêmio Pulitzer (ele viria a ganhar o Nobel em 1962). Capa, um jornalista fotogáfico mais do que experimentado em reportagens deste tipo. Ambos simpatizantes do socialismo, como eram boa parte dos intelectuais no pós-guerra. Steinbeck e Capa registraram o dia a dia da população, conversaram com pessoas de todos os tipos, especialmente as simples, das ruas aos campos. Capa fez cerca de 4000 fotografias. O livro inclui uma centena delas. Fotos de paz e não de guerra. Fotos que contam uma história paralela ao texto de Steinbeck - que, por sua vez, é delicioso, bem humorado e sempre vivo, como se ainda estivessem lá e todos estes anos não já fossem passado. ** as fotos, extraídas do livro, são da mulher citada por Steinbeck. (sem o pepino, vai saber). *** amados leitores do sexo masculino, saibam que não considero o pepino a solução. aliás, a guerra dos sexos, que tanta saliva, tinta e sangue já desperdiçou pelas eras afora, existe tão somente pelo fato de as tampas dos vidros de pepino serem hermeticamente fechadas e portanto, demasiado apertadas. se as tampas abrissem sem esforço, as vagas de estacionamento fossem amplas, as gramas se autocortassem, as cuecas se autolavassem e as toalhas se autopendurassem viveríamos felizes para sempre. ou ou ou estou enganada? 

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