"As câmeras de Capa provocaram enorme rebuliço. As mulheres o chamavam aos gritos enquanto ajeitavam seus lenços e suas blusas, tal como as mulheres fazem em qualquer parte do mundo quando vão ser fotografadas.
Havia um mulher em especial, de rosto cativante e riso contagioso, que foi escolhida por Capa para um retrato. Ela era a mulher mais espirituosa do vilarejo.
- Não apenas sou uma trabalhadora de mão cheia, como já enviuvei duas vezes e agora, os homens morrem de medo de mim - E ela brandiu um pepino diante das lentes de Capa.
- E você toparia casar-se comigo? retrucou Capa.
Ela jogou a cabeça para trás e deu uma sonora gargalhada.
- Olhe aqui, disse ela, se Deus tivesse consultado o pepino antes de fazer o homem, não haveria tantas mulheres infelizes no mundo."
John Steinbeck, in John Steinbeck e Robert Capa - Um Diário Russo
*
* durante quarenta dias, entre agosto e setembro de 1947, John
Steinbeck e Robert Capa viajaram pela Rússia (mais precisamente, Kiev, Stalingrado e
os balneários da Georgia, além da capital Moscou). Steinbeck já era
um escritor respeitado, vencedor de um prêmio Pulitzer (ele viria a
ganhar o Nobel em 1962). Capa, um jornalista fotogáfico mais do que
experimentado em reportagens deste tipo. Ambos simpatizantes do
socialismo, como eram boa parte dos intelectuais no
pós-guerra. Steinbeck e Capa
registraram o dia a dia da população, conversaram com pessoas de todos
os tipos, especialmente as simples, das ruas aos campos. Capa fez cerca de
4000 fotografias. O livro inclui uma centena delas. Fotos de paz e não
de guerra. Fotos que contam uma história paralela ao texto de Steinbeck - que, por sua vez, é delicioso, bem humorado e sempre vivo, como se ainda estivessem lá e todos estes anos não já fossem passado. ** as fotos, extraídas do livro, são da mulher citada por Steinbeck. (sem o pepino, vai saber). *** amados leitores do sexo masculino, saibam que não considero o pepino a solução. aliás, a guerra dos sexos, que tanta saliva, tinta e sangue já desperdiçou pelas eras afora, existe tão somente pelo fato de as tampas dos vidros de pepino serem hermeticamente fechadas e portanto, demasiado apertadas. se as tampas abrissem sem esforço, as vagas de estacionamento fossem amplas, as gramas se autocortassem, as cuecas se autolavassem e as toalhas se autopendurassem viveríamos felizes para sempre. ou ou ou estou enganada?
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