sábado, 10 de dezembro de 2011

Conjugando o verbo "viver"


Funciona assim: uma vez no poço, há que enfrentar destemidamente o olho que te encara lá do fundo. Desembaraçar-se do lodo que sufoca, exaure e puxa pra baixo, feito areia movediça. E finalmente perceber o que somos, o que temos e o que queremos da vida.

E se é verdade que nem sempre o fundo é a pior perspectiva, é verdade também que custa muito [e dói, dói, dói] chegar a este ponto. O passado ata pés e braços: arrasta-nos! É que o "senhor das memórias" não gosta de ser negado. Primeiro avisa: uma infelicidade; saudades não de gente, mas de alegria; faz doer os joelhos, as costas, inflama os tendões, enrijece. Emite sinais todas as manhãs e ao anoitecer. Depois, no meio da noite. Então começa a gritar, nos ouvidos, cada vez mais alto, de dentro pra fora, até o ensurdecimento, até a loucura. Implora por aceitação, que nos orgulhemos dele. Só assim nos alforria, libertando-nos, desimpedidos, para o futuro.

Aqui não cabem culpa, remorso ou moral religiosa: as asneiras e os erros que cometemos ao longo da vida, mesmo acreditando já esquecidos ou riscados do mapa, um dia batem à porta, um a um, para um acerto de contas.

E é bem neste momento, quando percebemos o quão frágeis somos, o quão vulnerável pode ser a vida, quando damos tudo aquilo que somos e temos como certo, que o sopro da dúvida sacode a poeira dos nossos olhos e feito esfinge pergunta: "você é um homem ou um poste?"
 
 
...

Viver não é sorte ou destino. É uma escolha.
 
 
 
 
*
 
 
 
 
 
* dezembro é meu mês bipolar: alterno momentos de nostalgia e esperança com muitas horas de silêncio e deprê. não sei o que aciona isto. nem como acaba - já passei anos a fio vivendo um mesmo dezembro...

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