sábado, 8 de setembro de 2012

Nosso destino: amar sem conta


Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.



Carlos Drummond de Andrade, Amar


*


 


*já pensou na sua vida como um poema? olha que brincadeira deliciosa descobri: é só responder ao teste do site Educar para Crescer  pra saber com qual poema de Drummond você mais se parece. ** o meu poema é este lindo aqui do post. [tá escrito lá] que sou apaixonada. que sou uma militante do amor - levo o sentimento comigo para onde for. que amo e ponto. e que não tenho apenas um amor, tenho o amor em mim. verdadeiro ou não, tem como não Amar?

2 comentários:

  1. Não tenho a menor dúvida que o amor está em ti. O amor e a escrita!

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    1. "Só o amor e o amante vivem eternamente/determina teu coração nisto apenas/o resto é emprestado." Rumi.

      Querida amiga, só podes compreender o amor em mim porque ele reflete no imenso amor que está em ti... Já sabe, né?

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