Os desiludidos do amor
estão desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.
Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providências
para o remorso das amadas.
Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.
Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes corações eles possuíam.
Vísceras imensas, tripas sentimentais
e um estômago cheio de poesia...
Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixões de primeira e de segunda classe).
Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
não servirão de lastro financeiro
e cobertos de terra perderão o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.
Carlos Drummond de Andrade, in 'Brejo das Almas'
*
* assim que, um Carlos sempre puxa outro. (e Fernandinha achou o exato ponto de sarcasmo que o poema pedia). é o que penso e sempre digo: amar demais não enjoa. mas os enamorados e toda a sorte de casaizinhos - que a polícia dos politicamente corretos não me leia - são um porre! toda gente sabe disso.)
** A verdade é que hoje, as minhas memórias de amores (não só de suas cartas, mas de todos os beijos, promessas e dores) é que são ridículas...
Sarcasmo pouco é bobagem... Muito bom... muito bom também a reforma do blog, ''eu gostí'', como diria o sentimental baby no vídeo da formiguinha. beijos!!!
ResponderExcluirOutros pra ti!
Excluir