domingo, 30 de dezembro de 2012

Domingo, às 16h, no Harlem

  
  • em 1995, Marjorie Eliot viu morrer seu filho, Phillip
  • era um domingo à tarde
  • ele, músico de jazz; ela pianista
  • desde então, semanalmente, Marjorie abre sua casa para os amigos de seu filho seguirem tocando 
  • sempre aos domingos à tarde, ininterruptamente
  • faça chuva ou faça sol e sem férias! 
  • os convidados incluem vizinhos, nova iorquinos e turistas de todos os lugares
  • sem necessidade de convite ou entrada:
  • o show é íntimo, ao vivo e completamente free!
  • uma experiência única - acompanhada de refresco e biscoitos carinhosamente servidos no intervalo.
  • a pequena sala de seu apartamento tem o espaço exato para seu piano e os músicos que a acompanham. 
  • mais 50 cadeiras, devidamente arrumadas com almofadas coloridas.
  • recentemente, Marjorie Eliot's perdeu outro filho, Michael
  • sem intervalo, seguiu com as sessões dominicais
  • diz que encontra conforto na música - e nas pessoas. 
  • "well, mais que a música, são as pessoas que me estimulam a continuar, as pessoas incríveis que vêm aqui. 
  • meus filhos, Michael e Phil se foram,  
  • eles eram toda minha família,
  • mas as pessoas que vêm aqui escolheram a mim para fazer parte da vida deles".
  • o apartamento fica em um edifício histórico, no Harlem, NY
  • da rua, nas escadas do edifício, ouve-se a música
  • mas os vizinhos não parecem se importar
  • "no começo, nos primeiros dias, eles não tinham certeza do que estávamos fazendo aqui", diz Marjorie
  • "mas agora eles parecem se orgulhar de viver em um local preenchido pela boa música".

  • anota o serviço:
  • Jazz na Sala da Marjorie Eliot’s
  • Every Sunday from 4 to 6 p.m.
  • 555 Edgecombe Avenue, Studio 3F, 
  • 212.781.6595. 
  • entrada gratuita. não é necessário reservar; assentos para os que primeiro chegarem.
















*








* tem feito tanto calor que nem penso. quando vislumbro uma ideia no saara que se tornou minha mente, só penso em água, gelo e refresco. repetidamente, feito obsessão. agora há pouco enxerguei uma miragem. uma imagem com pinta de déjà vu: um imenso copo de ginger ale, com a mesma picância e refrescância sentida pela primeira vez, em um verão longínquo e inesquecível em NY. alguns anos depois, aprendi a receita e ousei fazer. quem me ensinou a chamava de gengibirra, ou cerveja de gengibre, porque leva fermento - e a bebida é um fermentado de gengibre, esclareço - mas com um teor de álcool tão bobo, que é sugerida pra crianças em substituição aos refrigerantes venenosos vendidos em supermercados. aliás, a melhor receita de ginger ale que encontrei na net vem justamente de um site de alimentação natural para crianças, o Crianças na Cozinha  (recomendadissímo! além do fato da blogueira - hoje moradora de terras paulistanas, ser minha conterrânea - é uma mãe zelosa e pesquisadora incansável na área de nutrição e gastronomia infantil). a única diferença entre a receita que costumo fazer e a dela é que uso fermento orgânico (de pão, sabe?), mas estou ansiosa pra experimentar a sugerida por ela, mais trabalhosa, com levedo (soro) de leite. para adoçar uso o melado, o que deixa o drink com um suave retrogosto de caldo de cana, que eu aprecio muito. tem quem faça diferente, acrescentando sucos de frutas, água tônica e até cachaça... as variáveis parecem ser infinitas (dá um giro na web e verifica), mas gosto de pensar no ginger ale como uma bebida fresca, não alcóolica e caseira (um luxo, se compararmos com as versões industrializadas, simplistas e monótonas) que combina perfeitamente com festas de família, calor e alegria. ou seja, a cara desta época do ano! deu vontade? eu também! nem consigo esperar o tempo de fermentação da bebida - que leva, em média, 48 horas. por isso vou testar uma versão rápida, pra celebrar o ano novo (que chega em poucas horas) ensinada pela fotógrafa Cris Veit. se é uma boa receita, conto depois, mas garanto que não vou esquecer de brindar antes de entornar o primeiro copo: a você que me lê, a você, a você!

Ginger Ale

Ingredientes


Um pedaço de 6 cm de gengibre fresco ralado
1 litro de água mineral sem gás
1 litro de água mineral com gás
1 colher de chá de grãos de pimenta do reino
2 e 1/2 xícaras de açúcar
12 limas da pérsia

Preparo

Coloque em uma panelinha 2 xícaras de água sem gás, o gengibre ralado e os grãos de pimenta. Deixe ferver por 4 minutos. Espere esfriar um pouquinho e coe o líquido em uma jarra grande. Junte o açúcar, o suco de lima da pérsia também coado e leve para gelar. Acrescente o restante da água sem gás + o litro de água com gás apenas na hora de servir e em copos com muito gelo.


** tem feito tanto calor que não consegui escrever. deixei a vida me levar e o natal passou sem textos alusivos. o espírito natalino, entretanto, não deve ter apreciado a lacuna e compareceu, não faz muito, com a inspiração em forma de uma vaga lembrança: a cozinha de Marjorie Eliot. que não conheço, fisicamente. somente por fotos - e pelas imagens, como estas do vídeo acima. um link esquecido, esperando nos rascunhos do blog desde 2009, quando conheci a história desta pianista negra do Harlem, que abre sua casa todos os domingos para desconhecidos ouvirem jazz. sem nenhuma intenção. sem esperar reconhecimento. sem outra expectativa que a de partilhar música. como se não estivesse em uma das maiores cidades do mundo. como se não morasse em um país cheio de malucos paranóicos assassinos de criancinhas em escolas primárias. como se ela não fosse negra e idosa. como se ela não fosse sozinha. a senhora Eliot não convida celebridades. não cobra entrada. não serve champagne ou whisky (mas suco de maçã e ginger ale!). a sábia senhora Marjorie Eliot acredita que "onde há música não pode haver coisa má" e confia, destemida, na vida e nas pessoas que vêm para perto de si. porque existe mais bondade do que maldade no mundo. porque a grande maioria de nós é fruto do amor e da esperança. e mesmo quando nos falta amor e esperança é a memória destes sentimentos que nos impele para a vida e para o outro, em busca de amor e de esperança. o natal passou, mas o espírito natalino fez-me uma visita, há pouco. veio em forma de lembrança. de uma cozinha humilde aberta para o mundo. pequena, mas calorosa. como são as cozinhas que habitam nossa memória humana. espaços luminosos onde se dá o verdadeiro milagre da multiplicação: o amor e a esperança a renovarem-se e nutrirem toda gente. nesta cozinha - que em outros tempos foi construída em um estábulo, ao redor de uma manjedoura - é onde vive o natal. 

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