terça-feira, 29 de maio de 2012

Ardant!



  • e é tão boa a metáfora, que cometo a ousadia de parafraseá-la: 
  • há qualquer coisa em Ardant que lembra a champagne -
  • borbulhante 
  • sofisticada 
  • fresca
  • deliciosamente feminina -
  • ... mas ácida.



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* porque ontem uma amiga citou exatamente esta frase: "não se pode viver ou amar economicamente, como se a vida fosse uma caderneta de poupança". ** Fernando Eichenberg entrevistou Fanny Ardant em 2008, para a série de TV Revista Europa da GNT/Globosat. 

(... e aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música)



"Louvada seja a dança porque ela liberta o homem do peso das coisas materiais, e une os solitários para formar  a sociedade.
Louvada seja a dança, que tudo exige e fortalece, saúde, mente serena e uma alma encantada.
A dança significa transformar o espaço, o tempo e a pessoa, que sempre corre perigo de se desfazer e ser ou somente cérebro, ou só vontade ou só sentimento.
A dança porém exige o ser humano inteiro ancorado no seu centro, e que não conhece a obsessão da vontade de dominar gente ou coisas, e que não sente a demonia de estar perdido no seu próprio ser.
A dança exige o homem livre e aberto vibrando na harmonia de todas as forças.
Ò homem, ò mulher, aprenda a dançar senão os anjos do céu não saberão o que fazer contigo."


Santo Agostinho




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Intouchables (Amigos Improváveis - título em Portugal) é uma comédia francesa, escrita e realizada por Olivier Nakache e Éric Toledano, com François Cluzet e Omar Sy nos principais papéis. Estreou com enorme sucesso no final do ano e, em menos de um mês em cartaz, foi recorde de bilheterias de 2011 no seu país de origem e o mais rentável filme francês da história.   Na cena acima, que os diretores afirmam ter aproveitado de uma improvisação do ator Omar Sy (o enfermeiro senegalês engraçado, contratado pelo milionário tetraplégico) dança trecho de Boogie Wonderland, do Earth Wind and Fire. ** assim que, ao mesmo tempo, quero dançar feito Omar e também dançar com ele. #comofaz? *** no título, citação de Nietsche.

domingo, 27 de maio de 2012

Havia...



"Havia um Alemão que namorava uma Portuguesa. Ele não falava Português. Ela não falava Alemão. Mas, fora isso, entendiam-se bastante bem.
O Alemão vivia na Alemanha e a Portuguesa vivia em Portugal. O Alemão era criteriosamente dedicado ao seu trabalho, aliás como dizem ser os Alemães. A Portuguesa não tinha dinheiro para viagens, aliás como dizem não ter os Portugueses. Ele não tinha tempo para visitá-la, ela não tinha meios. Fora isso, entendiam-se bastante bem.
O Alemão não apreciava receber cartas, que defendia serem um subproduto cultural obsoleto numa era às portas da extinção do papel. À Portuguesa não lhe agradavam telefones, pois pareciam-lhe aproximações perigosamente fálicas para se encostar à boca. Nenhum dos dois gostava de computadores. Utilizavam-nos somente para efeitos de pesquisa académica (ele) e compras online (ela). Mas apesar de não recorrerem a cartas, telefonemas ou e-mails, entendiam-se bastante bem.
O Alemão não apreciava a comida mediterrânica. Enjoava com o cheiro a azeite e a sua frágil compleição era pouco prestável a qualquer prato que não aqueles que a sua própria mãe cozinhava. A Portuguesa era vegetariana e não consumia álcool, o que excluía desde logo tanto a salsicharia como a cervejaria tão queridas ao povo Alemão. Fora isso, entendiam-se bem.
O Alemão era, como dizem que são os Alemães, de trato distante. Ou “frio”. Como se o clima dos países do Norte os contaminasse para lá da epiderme. A Portuguesa era, por seu lado, barulhenta e fervorosa. Como se o calor nos países a Sul lhes aquecesse o sangue e os tornasse a todos turbulentos. Aparte a altitude sónica dela e a escassez expressiva dele, davam-se mesmo bem.
O Alemão era matinal e acordava com as galinhas. Apesar de ser totalmente urbano e a galinha mais próxima estar frita num KFC. A Portuguesa, por seu turno, vivia para as suas jantaradas, em família ou com amigos, que nunca começavam antes das dez da noite, e se estendiam madrugada fora. No dia seguinte era raro vê-la a pé antes do início da tarde. Mas não era por nunca estarem acordados à mesma altura do dia que se iriam dar pior.
Certo verão, o Alemão foi obrigado a tirar férias. Ainda não tinha gozado qualquer período de férias desde que entrara naquele departamento, e os seus superiores começavam a estranhar. Perguntavam-lhe sobre a FaMíliA, se nÃo peNsaVa CasAr — que já estava Na AltUra (os Alemães usam letras maiúsculas nos sítios mais estranhos). Ele mostrou uma foto da bela Portuguesa, e contou como se davam tão bem. Nunca tinham tido problemas um com o outro. Os seus superiores sugeriram que tirasse férias para a ver, porque havia uma regra qualquer sobre o número de dias de férias, e eles queriam cumprir as regras.
Nesse verão, o Alemão que namorava uma Portuguesa viajou até Portugal. Procurou a Portuguesa nos sítios que lhe pareceram mais apropriados: os anfiteatros, as bibliotecas, mas não lhe ocorreu que era mais provável ela estar na praia, na esplanada, ou ainda a dormir.
Tentou ligar-lhe, mas ela não atendeu. Perguntou aos transeuntes, com a sua foto em punho, se a tinham visto passar.
Mas não, ninguém.

Havia um Alemão que namorava uma Portuguesa. Procurou-a por toda a costa alentejana. Apanhou um escaldão. Ela passava entretanto os seus dias em Aveiro, onde morava. Fora isso, davam-se bastante bem."



Joana Bértholo, in "Havia" 




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* por aqui, havia uma menina que adorava ler. a menina cresceu e cresceram suas leituras. houve um momento que ela acreditou que poderia também escrever. mas acreditava pouco e resolveu começar aos poucos, com um blog e alguns contos. até o dia em que os contos passaram a ocupar mais do pouco tempo que havia. e o blog ficou em segundo plano, apesar de  todo o tempo e pesquisa a ele dedicado. mesmo com todas as alegrias que ele a havia dado... 

** não gosto de despedidas, mas um blog sem atualização não tem razão de existir. como continuo essa história?