quinta-feira, 23 de maio de 2013

Insônia [4]


"Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta".


 Eduardo Galeano, A noite/1, in O Livro dos Abraços


*







* em outra noite feito esta, li por aí que quando não conseguimos dormir à noite é porque estamos acordados no sonho de alguém. verdade ou lenda, deixa eu cantar baixinho no teu ouvido - esquerdo - enquanto descanso minhas mãos sobre teu peito: "stars fading but i linger on, dear, still craving your kiss. i'm longing to linger till dawn, dear, just saying this: dream a little dream of me".

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Cortina de fumaça [8] - Maria Teresa Horta



Deixo que venha
se aproxime de leve
pé ante pé até ao meu ouvido

Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido

Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido

Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo

Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido

Ele trepa de manso e logo tão voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído

Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho

Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
vestido de arminho

Sinto-o quando chega no arrepio
da pele na vertigem selada
do pulso recolhido

À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo.
 
Maria Teresa Horta, Poema
 
  *
 
 
 
 
* porque hoje celebra-se o aniversário desta imensa poetisa portuguesa [Lisboa, 20 de Maio de 1937], eis, em palavras do corpo, o ato da criação poética, segundo MTH.

Duas orações unidas por um parágrafo no centro do mundo

 
"Ajuda-me que já não sei o que faço com o que te sinto", dizes-me, a voz roçada pelas lágrimas. E eu sorrio, limpo-te as lágrimas. E amo-te.
É sempre com amor que se ajuda quem se ama.
"Queria viver sem precisar do teu abraço, sem depender dos teus lábios", atiras, enquanto me abraças e me beijas. E a ironia deixa que eu fique em silêncio.
É sempre em silêncio que se ajuda quem se ama.
Preciso-te para depois do que se sente. Preciso-te para além do que é saudável. Mas quem disse que o amor é saudável?
É sempre com deficiências que se ama com perfeição.
"Abraça-me como se me fodesses" pedes-me. E todo o amor, numa simples frase, fica dito.
Amo-te cada abraço como se te fodesse. Como se por dentro dos braços estivesse todo o prazer do mundo, todo o encanto de existir. Como se não houvesse depois para um abraço que se vive agora.
É sempre em agora que está o tempo de quem se ama.
"Não quero que me ajudes se não te estiveres a ajudar", explicas, a tua mão a ajudar-me o sexo a erguer-se. E depois chega o momento do corpo, o instante em que todos os suores servem para amar.
Se tiver de beber que seja de ti, se tiver de morrer que seja por ti. Se tiver de doer que seja a sério, sem remissões. Não admito dores pequenas para algo tão grande assim.
É sempre em tão grande assim quando se ama assim.
"Ouço Deus no teu orgasmo", confessas, já ajoelhada diante do que gememos. E nem as paredes conseguem ouvir o que nos dizemos em gritos. E nem a gramática explica uma sintaxe assim: duas orações unidas por um parágrafo no centro do mundo.
Nem o ponto final nos consegue terminar. Nem a água escorre com tanta força, nem a pedra é tão forte como o que nos ensina. E nenhuma sala de aula tem o que nós temos: dois alunos unidos pela certeza de que só o que se desaprende é capaz de ensinar.
É sempre ignorância amar tanto assim.
 
Pedro Chagas Freitas 


*









* Pedro Chagas Freitas, 32, é português de Guimarães. Lançou seu primeiro livro, "Mata-me", em 2005. Desde então, publicou outros 17 volumes. Criou o Ilusionismo Linguístico, uma metodologia inovadora que desenvolve a escrita de forma lúdica e lógica e o "Teste de QI Linguístico", que permite efetuar uma medição do domínio linguístico de quem escreve. Em 2012 concebeu e iniciou o primeiro curso de escrita criativa realizado 100% através do facebook [via wikipedia].
** imagem: The point of no return, Tatyana Druz.

domingo, 19 de maio de 2013

Todo prazer provém do corpo



Deixa que minha mão errante adentre
atrás, na frente, em cima, em baixo, entre
Minha América, minha terra à vista
Reino de paz se um homem só a conquista
Minha mina preciosa, meu império
Feliz de quem penetre o teu mistério
Liberto-me ficando teu escravo
Onde cai minha mão, meu selo gravo
Nudez total: todo prazer provém do corpo
Como a alma sem corpo, sem vestes
Como encadernação vistosa
Feita para iletrados, a mulher se enfeita
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns a que tal graça se consente
É dado lê-la.


John Donne, Elegia 


*

 







* música de Péricles Cavalcanti, com excerto do poema "Elegia: Indo para o leito", do poeta inglês John Donne (séc.XVI e XVII), traduzida por Augusto de Campos

ELEGIA: INDO PARA O LEITO

Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu Império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.

terça-feira, 14 de maio de 2013

Sapere








 
 










...  
Gosto das palavras exatas, as que acertam
com o centro das coisas, e quando as encontro
é como se as coisas saíssem de dentro delas.

Essas palavras são duras como os objetos
que designam, pedra, tronco, ferro, o vidro
de espelhos quebrados com o calor da tarde.

Tento incendiá-las quando escrevo, como se
o fogo saísse de dentro da frase, e se espalhasse
pelo campo da página numa devastação de sílabas.

Então, atiro sobre as palavras outras palavras,
água, pó, terra, o ar seco do verão, para que a voz
não fique queimada nesta paisagem negra.

Recolho os restos, os adjetivos, os advérbios,
artigos, preposições, para que só as palavras que indicam
as coisas fiquem no lugar que já tinham.

Pouco importa que as frases percam o sentido. O
que fica são os nomes das coisas, para que as coisas saiam
de dentro deles e as possamos ver nos seus lugares.

Nuno Júdice
 
*
 
 
 
 
* ao Tiago Yonamine foi dito que as palavras são a matéria prima do pensamento. que quanto mais palavras conhecesse, mais ideias poderia ter. e já que as palavras não mudam de ideias, mas transformam-se em outras, por acúmulo (com direito a resgates ilimitados em milhas espaciais), criou o Glossário.
a mim, que já tenho como assumido meu fetiche por palavras, o tumblr Glossário (também no facebook) é uma espécie de vício, daqueles que não nos apetece parar ou abandonar. tipo, colecionar beijos.
[e eu gosto sempre de lembrar que é na intimidade da boca que os sabores são revelados. pela língua. e através dela. que tanto pode ser com o que se come ou com o que se fala, ou ouve, ou lê. saborear é "saber intimamente", "saber dentro". assim como saber e sabor vêm do mesmo latim - "sapere" - sem sabor não há saber]
"toda vez que conheço uma nova palavra para pôr no Glossário, emerge uma imensa vontade de mundo. de viver a cultura onde é justificável a existência de uma palavra específica para um sentimento que, até aquele momento, eu não conhecia pelo nome. e eu quero viver tudo." Tiago Yonamine.

domingo, 12 de maio de 2013

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la


Aprendi a desenhar-te sem te ver
Sem te conhecer
A tua voz, as tuas palavras
Adivinham-me as linhas
Guiam-me as curvas, os traços
Enchem-me as sombras
Preenchem os espaços
E no silêncio da noite
Me apareces
Na tua figura esboçada
Como silhueta de esfinge
Como beleza desenhada.





José Gabriel Duarte, Desenho, in No Outro Lado de Mim, 2012



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*na imagem, feita por um fotógrafo iraquiano, a menina que perdeu a mãe na guerra desenha seu perfil com giz no pátio do orfanato, aconchega-se no ventre que ainda existe em seus sonhos e dorme (deixando de fora as sandálias, como rezam muitas culturas no oriente, ao adentrar-se em um "espaço sagrado"). ** citação no título: Clarice Lispector.

Da felicidade de ser mãe de filhos felizes


"Escrevo este texto e sei que um dia ele pode ser lido pelos meus filhos. Num dia distante, quando eles forem grandes. Por isso, não escrevo bem para vocês, mas mais para eles que podem, talvez, encontrar este texto. Para mim é importante que saibam que fui uma mãe que os quis ver feliz. Não fui uma mãe preocupada com agasalhos ou com as horas das refeições. Deixei-os brincar na chuva e saltar em cima dos sofás. Nenhuma destas coisas é sinônimo de felicidade, mas quis mostrar-lhes que no mundo há espaço para as coisas se fazerem de forma diferente. E isso é a felicidade. Essa consciência da nossa liberdade, essa certeza de que a vida depende das nossas escolhas. Essa alegria a traço grosso que, por vezes, ultrapassa os pormenores. Eu não sou aquela mãe que procura colégios exigentes ou que espera que os filhos sejam os melhores alunos. Às vezes vou a reuniões na escola e a professora fala-me de tabuadas e níveis de concentração e eu a ouço atentamente. Porque isso é importante. Mas não é tudo. No final tenho sempre que lhe perguntar: mas ele está feliz? E ela olha-me surpreendida, como se o bem-estar fosse inerente à infância. Quero que estudem, claro, mas acima de tudo quero que sejam felizes. Porque, como objetivo último na vida, a felicidade parece-me o melhor que um ser humano pode almejar. Mas a felicidade é, também, uma aprendizagem. E, como constato agora enquanto adulta, há pessoas que não aprenderam a felicidade quando eram crianças. Nem a generosidade. Ou a tolerância. Há pessoas que não sabem ser felizes. Eu quero que os meus filhos se instruam na felicidade. No gostar da vida todos os dias, no apreciar aquilo que temos. E então sou essa mãe um pouco atípica. E os meus filhos são essas crianças também um pouco atípicas. Não são muito crescidos, nem muito precoces. São, espero eu, muito felizes."


Joana Cabral, à convite do blog Quem Sai aos Seus



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* "há uma história por trás de tudo. mas antes dela, há sempre a história de uma mãe. porque é com ela que começam todas as outras" (Mitch Albom) - assim como somente uma mãe feliz pode escrever uma história de felicidade para seus filhos.** no vídeo, canção Ho Hey, dos Lumineers, cantada pelas irmãs Lennon e Maisy Stella, de 12 e 8 anos, quando convidadas a participar do programa de TV Nashville, nos EUA [e estar na pele da mãe dessas meninas pra explodir de felicidade, quem não gostaria?]. 

sábado, 4 de maio de 2013

Só o humor salva [4]


"Aquela conversa de travesseiro, "quem é o meu quindizinho?". "Sou eu. Quem é a minha roim-roim-roim?" "Sou eu", e ele inventou de dizer que jamais se separariam e que ele seria, para ela, como aquele nervinho de carne que fica preso entre os dentes, e ela disse "Credo, Osvaldo, que mau gosto!", e saiu da cama e depois nunca mais. Acabou por metáfora errada."


Luís Fernando Veríssimo, in O melhor das comédias da vida privada

 
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* porque os dias andam hardcore pelas bandas de cá - sometimes punk, sometimes heavy metal, só aliviando nos finais de semana, que é quando as horas correm em ritmo melancholic gothic - ando sobrevivendo de rir.
que a felicidade é uma escolha. e só o bom humor há de nos salvar. 


** [e esta croniqueta do Veríssimo - as metáforas, o mau gosto - fez -me recordar aquele episódio triste de nossa não tão recente história de costumes entre o príncipe Charles, um "tampax" e sua então amante, Camilla Parker-Bowles. aliás, imperdoável a deselegância da Duquesa da Cornualha: aceitar uma piada tão infame e permanecer pelo resto da vida com o autor dela? shame on you, viu? nem é porque ela foi vértice do triângulo amoroso que abalou o casamento de Charles e Diana, que Camilla sempre esteve na vida de Charles, antes mesmo de Lady Di. parece que Camilla foi uma jovem "sexy, corajosa e de atitude atrevida” (com uma espécie de "devil-may-care attitud', segundo a People. impressionou? é claro que leio fofocas da realeza: no dia que a rainha me chamar para o chá, saberei exatamente o rumo que a conversa não deve tomar) e que tinha "chutzpah” (insolência, audácia em íidiche). e tinha mesmo. sabe a primeira coisa que Camila disse a Charles quando se conheceram? "minha bisavó e seu bisavô foram amantes… que tal isso?". ela tinha 23 anos e ele já era um príncipe. com Diana, Charles foi forçado a fazer um casamento de conveniência. todos na época sabíamos que aquilo era uma farsa. e Diana não subiu no altar ludibriada - uma moça bonitinha (não linda, convenhamos), jovem e completamente sem graça, mas não ingênua. só ficou interessante com o tempo, quando passou a investir na moda a seu favor, a trabalhar com causas sociais, mudou o corte de cabelo e fez amizade com Elton John (nada como um amigo gay) e com a embaixatriz brasileira Lúcia Flecha de Lima - os amigos que finalmente ensinaram à triste Diana os prazeres da vida. que o tempo de sua vida tenha sido suficiente pra aproveitar estes ensinamentos é o grande legado que a ex princesa nos deixou...]

*** e já que o assunto descambou para intimidades, lembrei desta outra, também com o tema 'metáforas', escrita pelo nosso rei das crônicas, mestre L. F. Veríssimo.

"Prezado M:
 
Recebi o e-mail com seu mais novo poema e entendo seu entusiasmo. Realmente, é um raro exemplo de exteriorização poética da angústia moderna, a começar pela reiteração inicial: 'Eu mato, eu mato...'. A brutal assertiva evoca à perfeição a têmpera destes dias, o nosso 'zeitgeist'. Perderam-se as ilusões com a justiça, com as esperanças de regeneração e com todas as instâncias jurídicas. Vivemos num deserto de valores morais. O poeta não diz 'eu reprimendo', 'eu castigo', 'eu mando prender', 'eu condeno'. Diz e repete 'eu mato'. Que retribuição se pode esperar onde a justiça não faz justiça e a cadeia não segura o ladrão? O poeta ameaça fazer sua própria justiça porque não existe outra. Revertemos ao animal primevo com as presas à mostra, num ricto de vingança selvagem. Uma hiena ganindo entre as ruínas de uma civilização falida.
 
Segue o poema: '... quem roubou minha cueca...'. Há aqui algo que evoca Eliot, com seu constante recurso ao aparentemente banal - no caso, a cueca - em contraponto a alusões clássicas e míticas, e que acabou sendo um viés da poesia moderna (Auden, Drummond). Não seria, talvez, demais ler a cueca como metáfora. A cueca representa o que temos de mais íntimo, recôndito, profundo. O que temos de mais nosso. O que o 'zeitgeist' nos roubou. Ou seja: a nossa alma. Onde está 'cueca' leia-se 'alma'. Sem a cueca ficamos nus. Sem a alma também estamos reduzidos a apenas nosso corpo. Mas quem roubou a nossa cueca/alma? Quem trouxe nosso corpo desprotegido para este deserto? Quem merece a raiva do poeta?
 
Que a raiva é merecida fica evidente na última linha do verso: '... pra fazer pano de prato!'. A suprema degradação. Nossa alma secando pratos. O fim de uma geração que conseguiu chegar à Lua mas se perdeu no caminho da privada. Quem é o culpado? Também queremos ganir de indignação como o poeta mas não sabemos em que direção. Para o alto? Para o lado? Para que lado? Quem, afinal, roubou nossa cueca pra fazer pano de prato?
 
Mas, enfim, poesia é isso mesmo, não é não? Perguntas sem respostas. Se houvesse resposta não seria poesia. Só me resta invejar o seu poder de síntese e a síntese do seu poder, que reduz toda a condição humana a um verso singelo, e o Universo a um gemido terminal. Parabéns!
 
E um grande abraço do L."

Na caverna que mais temo entrar é onde se esconde o tesouro que procuro


"É descendo até o mais profundo abismo
que recuperamos os tesouros da vida.

Onde tropeçamos,
aí está nosso tesouro.

gruta mais escura e tenebrosa

revela-se a fonte das respostas
que tanto buscamos.
E aquela maldita coisa na caverna
escura, assustadora e temida
vem e nos devora

tornando-se o centro de nossas vidas
e revelando nossa mais profunda essência."


Joseph Campbell, in A Joseph Campbell Companion



*









* "o destino guia aquele que assim o deseje; aquele que não o deseja, é arrastado" - este antigo provérbio romano é um dos inúmeros citados por Joseph Campbell em sua conversa com o jornalista Bill Moyers no infindável "O Poder do Mito", livro que voltei a reler após 22 anos, e que faz parte de minha vida, como um dos meus livros de formação. Em uma de suas páginas, Campbell desdobra o vocábulo inglês "atonement" (expiação, reparação) em três elementos "at-one-ment". Campbell sugere a ideia da ação una, conjunta (-ment é um sufixo designativo de ação, efeito), de modo que a expressão toda ganha também o sentido de "uma só ação com o todo", que pode ser o pai, Deus ou o todo que reside em cada ser - nossa natureza essencial e una com o todo. E após, cita as palavras de Jesus Cristo no Evangelho de João: "Em verdade, em verdade vos digo que se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, ficará inerte e abandonado, mas se morrer dará muitos frutos". E logo em seguida, cita o Alcorão: "Você julga que entrará no Jardim da Bem-aventurança sem as provações que afligiram àqueles que entraram antes de você? A bem-aventurança provém do sacrifício". E usava a expressão inglesa "bliss" para falar de bem-aventurança; "bliss" que também é sinônimo para felicidade, êxtase, beatitude...  "Siga a sua bem-aventurança, lá onde há um profundo sentido do seu ser, lá onde seu corpo e sua alma querem ir. Quando tiver essa sensação, quando encontrar a paixão da sua vida, siga-a. Siga o caminho que não é caminho fique aí e não deixe ninguém arrancá-lo desse lugar. Portas se abrirão onde antes não havia portas e você sequer imaginava que pudesse haver. O privilégio de toda uma vida é ser aquele que nascemos para ser."
** obrigada, mais uma vez, caro mestre. preparando-me para o lançamento em 3, 2, 1...