sexta-feira, 13 de maio de 2011

Espelhos servem para refletir o rosto, a arte para enxergar a alma








Arte é sair do lugar comum. 

Olhar alguém nos olhos, por exemplo, quando já ninguém mais faz isso, acostumados que estamos em conversar por telas, vidros, telefones, máscaras... minimamente interessados em ouvir e/ou perceber o outro.

Silenciar e tentar captar a essência alheia é muito mais significativo que o solilóquio descontrolado e sem profundidade que vivenciamos hoje. 

Foi o que comprovou a artista e performer sérvia, Marina Abramovic, 65, durante os 3 meses que ficou sentada, em silêncio, no meio do MoMA em Nova York.  

A obra The Artist is Present, contava com a artista sentada em uma cadeira enquanto à sua frente em outra cadeira, os visitantes do museu se revezavam, por tempo ilimitado, na única função de devolver o olhar para Marina. O incrível é que, durante os 90 dias, todos os dias, da hora que o museu abria até a hora do seu fechamento, Marina não se levantou, não comeu, não falou, não se mexeu.  

O MoMA montou um flickr com fotos de todos que participaram da performance junto da artista, sem nomes ou identificaçao, somente com a contagem dos minutos que estiveram frente à frente. Vale a visita - as centenas de faces impressionam!

Mas se você - assim como os que ousaram, respeitosamente, encarar a artista - não teme a emoção, vá direto ao marina abramovic made me cry, feito só com os flagrantes dos que não conseguiram conter as lágrimas... 


  • fuerte!
  • made me cry, too... 

 
"Não digas nada! Nem mesmo a verdade. Há tanta suavidade em nada se dizer e tudo se entender." Fernando Pessoa


*










Marina Abramovic, a artista, é a mulher de vermelho, no primeiro quadro à esquerda, na última foto - a única que não chora. Bjork, seu marido e filhinha sentaram na cadeira do MoMa, em frente à Marina. Lou Reed também. Bjork chorou. Não achei mais as fotos deles. Frase no título: George Bernard Shaw. 
** Este post foi escrito no ano passado (a exposição no MoMA foi de março a maio de 2010) e estava arquivado em minha pasta de rascunhos, aguardando finalização. A edição é uma função que nunca termina - ou o assunto é raso, não nos mobiliza e cansa ou a gente se cansa de tanto matutar o assunto que não cansa - e só acaba quando paramos de matutar. O que ainda não é o caso deste texto...

2 comentários:

  1. Eu, chorei aos 7 min vendo as fotos. Que lindo...

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    1. Marina é uma artista mal compreendida e vista com receio pela crítica. Um tanto por sua escolha pela performance - uma forma de expressão artística que resvala para o exibicionismo - e outro tanto por gostar muito dos holofotes.

      Do artista, entretanto, espera-se e perdoa-se tudo. Por suas opiniões são amados e odiados. E não é esta mesma a missão destes escolhidos: contestar, fazer refletir, mostrar as infinitas faces do belo que é a própria vida?

      Não me canso de admirar a imensa galeria de rostos que estiveram frente a frente com Marina no MoMa: todos tão diferentes e assim mesmo, todos unidos por uma só emoção. Soa clichê, mas não é. Essas pessoas, chorando em silêncio, estão muito longe do lugar comum...

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