- eles são conhecidos como holdouts
- militares japoneses que, sem informações oficiais sobre o término da segunda guerra mundial, continuaram lutando e resistindo em seus postos em algumas ilhas do Pacífico
- isolados e com comunicação precária (geralmente dependendo de algum bravo mensageiro voluntário ou bilhetes amarrados em vacas ou folhetos jogados por aviões)
- os holdouts eram instruídos a: 1 - resistir a qualquer tentativa de ocupação, 2 - não se render e 3 - não se matar, sob qualquer circunstância
- ou seja, não cediam nunca!
- qualquer tentativa de contato era interpretada como armadilha ou, na melhor das hipóteses, propaganda do inimigo
...
- o caso mais famoso é de Hiiro Onoda
- Onoda ficou 30 anos isolado e mandando chumbo em quem se aproximasse
- feriu 100. matou 30.
- transformou-se em uma espécie de ermitão assassino, odiado pelos habitantes locais
- não acreditou nem na voz de seu superior, reproduzida em carros de som
- até a mãe dele foi até ele; gritou com um megafone (!), sem sucesso.
- paranóia total.
...
- mas a história fica ainda mais surpreendente.
- em 1974, um estudante japonês chamado Nario Suzuki resolve sair com sua mochila mundo afora
- na cabeça, três objetivos: "achar Onoda, um panda e o abominável Homem das Neves"
- como só se vê em Hollywood, Suzuki vai até a ilha nas Filipinas, esquece as praias paradisíacas, entra pela mata e dá mesmo de cara com Onoda
- grita 3 vezes "sou japonês, sou japonês, sou japonês" e ...
- não é alvejado!
- após quase 8 horas de explicações (onde imagino o soldado reaprendendo a conversar) o estudante conta-lhe tudo o que aconteceu
- ainda assim, Onoda recusa-se a abandonar seu posto - "não sem a ordem de meu superior"
- o estudante volta para o Japão e localiza o superior de Onoda,
- um tal de Major Taniguchi, que à essa altura está aposentado e virou dono de livraria.
Taniguchi e Onoda
- em 1975 (29 anos após o término da Segunda Grande Guerra Mundial), Onoda finalmente se apresenta diante de seu superior, impecavelmente uniformizado
- este é o trecho de sua autobiografia onde relata este momento:
"Nós realmente perdemos a guerra! Como fomos tão desleixados? De repente tudo ficou escuro. A tempestade rugia dentro de mim. Eu me senti como um idiota por ter estado tão tenso e cauteloso no caminho para cá. Pior do que isso, o que eu tinha feito durante todos esses anos? Gradualmente, a tempestade amainou e pela primeira vez eu realmente entendi: minha vida, os trinta anos como guerrilheiro para o exército japonês, tudo acabado. Este foi o fim. Puxei o ferrolho no meu rifle e descarreguei as balas... Baixei a sacola que sempre carregava comigo e depositei a arma em cima dela. Será que realmente não terei mais uso para este rifle que eu tinha polido e cuidado como a um bebê todos estes anos? E o rifle Kozuka, escondido por mim em uma fenda nas rochas? A guerra realmente acabou há 30 anos atrás? Se isso for verdade, não teria sido melhor se eu tivesse morrido?"
...
- Onoda ainda teve que ser perdoado por seus crimes por Ferdinando Marcos, então presidente das Filipinas, para tornar-se um homem livre
- e foi só em 1979 que voltou ao lar
- [pensou que este era o fim da história? então senta!]
- Onoda deu uma guinada - hemisferial - em sua vida
- infeliz com as modernidades do Japão saiu de mala e cuia para...
- adivinhe?
- o Brasil! foi parar no Mato Grosso do Sul
- aqui criou gado; casou-se.
- e mesmo com a vida tranquila no interior rico e fertil do país
- mais uma vez dá uma reviravolta em sua vida:
- em 84 volta para o Japão e inaugura uma escola especial de técnicas de sobrevivência
- seu objetivo? "aumentar a independência e autonomia dos jovens cidadãos japoneses".
- Onoda ainda vive; em 2012 fará 90 anos
- [o que significa que a história ainda pode aumentar; portanto, Sem Fim]
...
- pena não ter conseguido descobrir se o estudante Suzuki encontrou um panda
- [que Onoda é tão mais absurdo que o Abominável Homem das Neves que nem vale a busca]
*
* esta história incrível me faz lembrar de uma piada de humor negro e de uma entrevista que li, ano passado, em uma revista espanhola. O entrevistado, o jornalista que é o âncora do telejornal de maior ibope na Espanha [desculpe minha memória fajutinha, mas não gravei o nome], em um trecho conta o que ainda o fascina na profissão - "as histórias de vida, a própria vida, o fantástico em tudo. Veja a Copa de Futebol deste ano [2010]. Se alguém viesse me procurar há dois meses contando de um polvo inglês em um aquário alemão que prevê - com acerto! - os resultados finais dos jogos do futebol, eu não só duvidaria, mas desconfiaria que meu interlocutor estivesse em uma viagem de ácido". Então ficamos assim: sempre que você se sentir desacreditado da vida e tudo lhe parecer sem graça, lembre-se do polvo Paul. E de Hiiro Onoda! ** mais um post gentilmente patrocinado pelo Wagner Brenner, do update or die. *** a piada, de tão incorreta, conto só sob tortura!
Realmente os horrores que a guerra deixa no mundo são de proporções inimagináveis. Passei pela Alemanha e visitei locais que até hoje causam arrepios, porém mesmo lá, não vi, li, ou ouvi nada parecido com o Onoda. Ele colocou o homen das neves no bolso, urso Panda então, passou a ser bicho de estimação de tão fácil ser achado.
ResponderExcluirmas me conta, André, na Alemanha não comeste polvo, né?
ResponderExcluirNão não, nem pensar ;)
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