- passei a semana lembrando (e cantando) Old Friends/Bookends, da dupla Simon and Garfunkel:
"Velhos amigos - o inverno acompanha os velhos, perdidos em seus sobretudos, esperando pelo pôr-do-sol... Um jornal, voando pela grama, cai nas pontas arredondadas dos sapatos de sola grossa dos velhos amigos. Os sons da cidade trespassando as árvores, pousando como poeira, nos ombros dos velhos amigos...
- Você pode nos imaginar anos à frente, dividindo um banco de praça tacitamente? Que terrivelmente estranho ter 70 anos... Velhos amigos, movendo-se juntos pelos mesmos anos, compartilhando em silêncio o mesmo medo, sentados no banco da praça, como num final de livro."
...
- costumava ouvir esta canção recostada na parede,
- sentada no chão acarpetado do meu quarto juvenil,
- deslumbrada com a foto na capa do LP: um mar de gente!
- "Concert in Central Park... Nova York... 1981... 500 mil pessoas..."
- tudo escrito no encarte - que só não trazia repostas a duas dúvidas inquietantes:
- - Será que nunca ninguém disse ao Simon que ele tinha uma franjinha ridícula?
- - Por que é que o Garfunkel aparecia sempre atrás, sendo ele tão mais bonito que o Paul?
- ok, deu pra perceber né?
- fui sim apaixonada por Arthur Garfunkel
- [suspiro]
- ahãm, mesmo sabendo que Paul era o mais talentoso dos dois...
- talvez por isso, ou por Travolta, muito provavelmente, não dei continuidade à minha devoção por Art
- entre o bom mocismo de Garfunkel e a dança libidinosa do Travolta, não tive muita escolha...
- entendam: ainda era uma adolescente, mas a cada segundo, meus hormônios insistiam na lembrança que em breve seria uma mulher.
- então, com este assunto aparentemente resolvido e enterrado, fui dar com as mochilas nas costas pela Holanda, alguns muitos anos depois.
...
[pausa de 15 segundos para o comercial institucional:]
"Você que é inteligente e por este motivo está aqui. Você que sabe ler entrelinhês. Você é perspicaz e nem precisa de subterfúgios para entender. Preste atenção, esta charada não é pra você: quando na Holanda, faça como Van Gogh - se o negócio complicar, se for mesmo desesperador, arranque as orelhas para não ouvir a voz da consciência. Mas em hipótese alguma feche os olhos - e encare de frente toda a beleza dos tons de amarelo e azul."
...
- ah, a loucura! ah, o delírio!
- meus olhos de ressaca de cigana oblíqua nem dissimulavam: eram só os holandeses que viam!
- em minha fantasia eu acabara de mergulhar em um oceano de Art Garfunkels - feito o que via admirada naquela capa de LP!
- (todos mais altos que Paul, com lindos caracóis loiros ou ruivos a emoldurar dois faiscantes olhos azuis)
- mas alto lá! não se engane: não era mais tão menina e já tinha desenvolvido algum bom senso
- até parece que iria parar todo jovem holandês bonito que encontrava com o um "fazes-me lembrar Art Garfunkel",
- claro que não! já naquela época como hoje, dava sinais de minha contemporaneidade
- para todo jovem holandês bonito que encontrava, sacava da minha câmera e... pá!
- hoje, tenho a certeza de que fui precursora de umas das atividades mais hypes da atualidade: a fotografia de street style
- e minha coleção de dutches garfunkels está aí para provar-me!
"Long ago it must be... I have a photograph. Preserve your memories,
They're all that's left to you..."
*
* Paul Simon completou 70 anos no mês passado (13 de outubro). Arthur Garfunkel fará setenta daqui a dois dias, em 5 de novembro. Old friends foi escrita em 1968... Ambos são septuagenários. E o livro ainda não acabou...
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