Nível
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Posso falhar o editorial, mas leio, com fidelidade diária, a meia dúzia de mensagens eróticas do jornal Público. Interessam-me. Não há rabos, nem mamas gigantes, não se prometem regabofes, nem orgias, não há gays, nem travestis, nem peludinhas, nem rapadinhas. Não há quantidade, mas qualidade. Tudo é elevado, discreto, a prostituição apresentada como coisa distinta, secreta, aristocrata até. Esta semana, porém, três senhoras de alto nível, na sua vitrina do jornal, tem vindo, diariamente, à procura de cavalheiros educados para troca de meiguisses em apartamento de luxo. Se se tratasse de um anúncio publicado no diário de notícias ou no correio da manhã, uma pessoa ainda fechava os olhos. Agora, ali, no Público, no meio da Regina, balzaquiana, senhora culta, licenciada, elegante e do centro de massagem sensual para cavalheiros de nível, o erro ganha outra dimensão. Torna-se grosseiro e tacanho, sobretudo, profundamente desmotivante. Por muito empenhadas que as três senhoras de nível sejam, por muita competência prática que tenham no desempenho do seu ofício, boas mamadas, penetrações profundas e apertadinhas, qualquer cavalheiro de nível, educado, terá de declinar a amável convite. As meiguisses prometidas destoam da elevação geral da coisa. Parecem-me mal. Muito mal!"
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* antes, um esclarecimento: o anúncio e o texto não têm relação um com o outro. Dito isto, adianto - ao menos, à primeira vista! Primeiro, pelo óbvio - sim, ambos vieram de terras d'além mar. Segundo: o texto veio antes do anúncio e de lugares diferentes. Mas não há como negar o tom elegante e de sofisticada ironia que os dois tratam da "profissão mais antiga do mundo" (desculpe o clichê, mas me divirto com essa denominação - sempre acreditei que fossem as mães as primeiras profissionais da humanidade - equipará-las às prostitustas não é, no mínimo, irônico?). Do anúncio, fica pergunta: - Como este cavalheiro (que recita poemas gratuitamente, afinal um marketeiro sensível!) identifica se suas clientes são mesmo educadas? O texto, da Ana Cássia Rebelo, traz implícita uma possível resposta: ao que parece, em Portugal portugueses e portuguesas não dormem com qualquer um - ah não! Algum nível - gramatical, ao menos - há que se ter!
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