terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As cidades e o desejo



"Quando a voz interna que fala por meio de sonhos e projetos é sufocada por desejos e suas subsequentes desilusões, perdem-se a ingenuidade e o élan que são imprescindíveis. Para onde quer que se corra ou se olhe, lá está o desejo. 
E não bastará saciá-lo no momento, porque o desejo está sempre mais preocupado com a preservação de sua potência do que com a própria experiência de usufruir sua realização". 

Nilton Bonder, in: O Sagrado


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* as Cidades Invisíveis (1972), do escritor italiano Ítalo Calvino imagina um diálogo fantástico entre Marco Polo, "o maior viajante de todos os tempos" e o famoso imperador dos tártaros, Kublai Khan. melancólico por não poder ver com os próprios olhos toda a extensão dos seus domínios, Kublai Khan faz de Marco Polo o seu telescópio, o instrumento que irá franquear-lhe as maravilhas de seu império. Polo então começa a descrever minuciosamente 55 cidades por onde teria passado, agrupadas numa série de 11 temas: as cidades e a memória, as cidades e o céu, as cidades e o mortos, as cidades delgadas, entre outras. as visões, projetadas numa rigorosa arte combinatória, bebem de muitas fontes, desde as Mil e Uma Noites até as megalópoles que vemos no cinema. o resultado é um livro extraordinário e indefinível. em nenhuma outra obra Ítalo Calvino chegou tão perto dos valores que considerava fundamentais à sobrevivência da "espécie literária": leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência. é impossível não se perder nessas cidades, como é impossível não se enredar nessas teias de palavras. [da Folha de São Paulo]

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