sábado, 2 de julho de 2011

Feminina (3)



Para poder morrer
Guardo insultos e agulhas
Entre as sedas do luto.
Para poder morrer
Desarmo as armadilhas
Me estendo entre as paredes
Derruídas.
Para poder morrer
Visto as cambraias
E apascento os olhos
Para novas vidas.
Para poder morrer apetecida
Me cubro de promessas
Da memória.
Porque assim é preciso
Para que tu vivas.



Hilda Hilst, Para poder morrer, 1967


*



* Hilda, para sempre "a obscena senhora", que ousou desnudar a alma revelando o sexo. O sexo que é do corpo, assim como o corpo é da morte.

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