sábado, 9 de novembro de 2013

A questão não é mudar. É ampliar.


"Nós somos casas muito grandes, muito compridas. 
É como se morássemos apenas num quarto ou dois. 
Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas."

António Lobo Antunes


*








* não sei se ocorre o mesmo com os outros. comigo quase sempre é assim: nos meus sonhos revisito a minha casa de infância. conversas, banalidades, situações absurdas e todo o tipo de perseguição e embate acontecem entre as quatro paredes do que um dia foi minha casa. meus interlocutores podem ser os do trabalho, desconhecidos, monstros até, mas andamos pelos mesmos corredores e sentamo-nos à mesma mesa que eu e minha família partilhamos nossas refeições há tantos anos. um lugar onde fui feliz e infeliz à mesma medida. a casa nem mais existe, mas permanece em mim, como se tudo o que aprendi, vivi, superei, venci não tivessem me levado além. no íntimo, naquele lugar mais inacessível de mim, eu nunca mudei de endereço - presa à infância, até o fim.

** a casa, na fotografia de Leslie Hossack, é uma das centenas construídas pelo regime nacional socialista de Hitler para oficiais da SS e suas famílias. localizadas em uma floresta idílica ao longo das margens do Krumme Lanke, no lado oeste de Berlim, em Zehlendor, são um um exemplo típico da arquitetura residencial nazista: pequenas casas com telhados íngremes e janelas fechadas, separadas uma das outras pelo ambiente natural.

Um comentário:

  1. Perfeito! E de portas fechadas ninguém entra. E ninguém sai.

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