terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Ninguém me venha dar vida


Ninguém me venha dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser
e não me quero encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.

Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.

Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis a quem não quis. 

Cecília Meireles, 1947 




*pode acreditar: transcrevi este poema de cabeça, sem colinha! Foi um dos primeiros que decorei  e é ainda um dos meus prediletos dentro da fascinante obra de Cecília M., justamente porque foi o que me despertou para a poesia, aos 13 anos de idade. Trago comigo, desde essa época, o romantismo fora de propósito e o livro, com as páginas amareladas e comido pelas traças (como também está o romantismo, aliás, à esta altura, completamente irremediável!): o volume 6 de Poesias, da Coleção Para Gostar de Ler, da Editora Ática. Mais alguém ainda tem?

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