As mais faladeiras são as mais simpáticas, as mais capazes de estabelecer redes de informações sobre os lugares de coletas e as mais hábeis em proteger suas crianças.
A isso, Darwin chamou vantagem evolutiva. Essas mulheres deixaram mais filhos que as casmurras, as ensimesmadas de poucas falas. Não é de espantar que as mulheres de hoje falem pelos cotovelos, em média três vezes mais que os homens. Elas salvaram seus filhos. É algo que temos que aturar? Ou admirar? E os homens? Mais musculosos, menos apegados às crias, iam à caça, silenciosos, comunicavam-se por sinais, para não afugentá-la. Traziam as preciosas proteínas, que nos deram cérebro diferenciado. Cansados, sentavam-se ao redor da fogueira em silêncio cúmplice, amizade de homem. Não é de admirar que hoje, em torno da TV, tomem cerveja e urrem com os lances do futebol. Amizade de homem.
Nem raízes e frutas eram fartas, nem proteínas da caça eram fáceis. Havia substâncias nelas que se acumulavam no corpo como uma reserva de combustível: açúcares e gorduras. Se a turma passasse um tempo de vacas magras, o corpo se abasteceria deles.
Novamente aí entra Darwin a dizer: quem gostou mais de açúcares e gorduras deixou mais descendentes. Somos descendentes daqueles africanos que gostavam mais de açúcares e gorduras, pois os outros morreram de inanição.
Agora, uma diferença: na savana, você tinha que ralar para pegar um pouco de proteína, de açúcar e de gordura. Não havia obesidade entre nossos ancestrais, muito menos academias de malhação. Mas você está lendo o jornal na poltrona. O telefone está ao alcance da mão. Nele está gravado o número do serviço de entrega da quantidade de proteína, gordura e açúcar que você quiser. O que acha que seus genes vão pedir? Que saia à caça? Que busque as amigas para saber onde ficam as melhores raízes e frutas? Toda a parte boa pode ser entregue em casa: a fogueira está lá, basta chamar os amigos para ver TV com cerveja e pizza; as mulheres estão na cozinha, conversando sem parar, sem ter ido à coleta - a coleta foi até elas.
É essa a armadilha que a natureza nos preparou. Ela nos seduziu para que acreditássemos que isso é a tal da felicidade."
#darwintiamu!
- Mais alguém aqui considera a psicologia evolucionista uma espécie de bálsamo que nos redime de toda a angústia de ser humano, liberando-nos da sensação monstruosa que nos aflige ao percebermos que nossas reais intenções na vida são as mesmas de qualquer outro animal selvagem?
- Não sei como a comunidade científica encara este tipo de texto, mas pessoalmente, acho uma delícia!
- E não entendo como ainda consideram Freud mais influente que Darwin, Einstein e Galileu.
- Francamente!
- Será que o mundo se transformou em área exclusiva de argentinos?
* Francisco Daudt, psicanalista e médico, escreve para a Folha de São Paulo, à terças. Texto publicado em 21/12/210.
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